A constelação Abbas Kiarostami
Há perdas que são como estrelas que se apagam. Outras, como se o céu inteiro escurecesse de repente. É o que acaba de acontecer hoje, com a morte do sublime Abbas Kiarostami.
Ele tinha essa marca original dos que eliminam fronteiras sem alarde – como entre ficção e documentário. Quem se importa, se tudo o que se passa na tela é necessariamente uma construção ? A diferença é que ele cometia essa e outras transgressões com uma elegância rara e um espírito de explorador que procurasse desvelar um território novo a cada imagem.
O legado de Kiarostami não é um qualquer e não só pelo número de filmes ou prêmios acumulados. Um olhar por uma obra que congrega Gosto de Cereja, Close Up, Através das Oliveiras, O vento nos levará, Dez, Cinco e Cópia Fiel, mais do que fechar um arquivo abre caminho para a necessidade de uma constante volta a alguns desses títulos indeléveis de sua cinematografia, dessas que foi capaz de irrigar o cinema do mundo a partir do Irã e inscrever seu nome como um dos maiores da virada do século 20 ao 21.