Ruído Branco, de Noah Baumbach
Quando uma personagem pergunta a outra em Ruído Branco qual é o seu problema de saúde, a resposta poderia ser “pós-modernidade”. Mas Noah Baumbach, obviamente, mantém o diálogo original do livro de Don DeLillo e diz que é um medo incontrolável de morrer. Não ajuda muito o fato de que, uma hora antes, o protagonista, Jack (Adam Driver), um especialista em Estudos de Hitler (o maior e único, na verdade, nos EUA), tenha dito aos alunos que “todas as tramas caminham em direção à morte”.
Mantendo-se bem próximo do original – para o bem e para o mal –, Baumbach é reverente ao grande DeLillo, mas capta bem a atmosfera dos anos de 1980 nos EUA – em especial pela excelente fotografia de Lol Crawley e o cabelo da personagem de Greta Gerwig, que grita “it is the 80s” em cada ondulação dele. Essa talvez seja a grande qualidade do filme, conseguir reproduzir o espírito de uma época em imagens. E, nesse sentido, o diretor revisita vários gêneros e tropos daquela década – dos terrores do passado às comédias de família.
Mas, ao mesmo tempo, parece que o filme é reverente demais ao original – dividindo-se em três parte, como o romance. Falta a Baumbach apropriar-se do romance, torná-lo seu e não apenas o ilustrar com imagens. Os males espiritual, emocional, físico, político e econômico estão todos ali, materializados no medo exacerbado que protagonista feminina tem de morrer. As características do zeitgeist daquele período também, como a ausência da historicização da narrativa. Tudo parece acontecer ao mesmo tempo: a narrativa é propositadamente (espera-se) confusa em sua primeira parte; a ausência de elos emocionais e (estruturalmente) narrativos; e o consumismo tornando-se espetáculo social (especialmente nos créditos finais).
De qualquer forma, o “airborne toxic event”, o “acontecimento tóxico aéreo”, tem uma semelhança impressionante e assustadora com o presente nosso – da falta de informações às informações contraditórias, passando pelo negacionismo. E, em certo sentido, todas as tentativas de adaptação fracassadas do filme foram para o bem, pois ele não teria tanta ressonância como agora – ainda que pelas mãos de Baumbach, que, sendo honesto, se esforçou e entrega um filme decente. A melhor coisa é a música inédita do LCD Soundsystem, new body rhumba, que toca nos créditos finais.