Persona e Segredos de um escândalo
Quando vi Segredos de um escândalo, me veio à mente que o que Persona é para o modernismo, o desejo de ser único e fundir coisas, o filme de Haynes é para o pós-modernismo, abraçando a multiplicidade e as identidades fragmentadas.
Bergman, como um artista modernista, está experimentando a linguagem em busca de uma linguagem adequada para transmitir seu conteúdo. Existe a recusa de se separar. Corpo e Alma (um personagem se chama Alma; ele nunca se preocupa em se esconder) devem se tornar um. Acima de tudo, existe uma narrativa mestra como chave para a compreensão deste filme – possivelmente muito psicanalítica.
Por outro lado, em Segredos de um escândalo, não há explicação; não há narrativas mestras para ajudar na compreensão. Pode significar qualquer coisa. A sociedade do espetáculo transformou tudo em mercadoria – até mesmo (ou especialmente) experiências pessoais e história (vendável para filmes).
Não é novidade nada disso, mas Haynes investiga coisas como a apropriação das experiências pessoais em produto cultural. Até que ponto isso é capaz de absorver a realidade - dica, pela cena final do longa, é incapaz. A verdade, se é que existe, depende de vários pontos do vista - uma somatória talvez.
A personagem de Natalie Portman, a força moral do filme aqui, é incapaz de compreender isso, o que talvez seja um pouco como nós: incapazes de acessar o real, tomamos decisões a partir de pontos de vista distintos, e isso talvez seja nossa (assim como dela) maior falha trágica.