O olhar de Carlão em "Paraíso perdido"
Existe uma alma corsária em Paraíso Perdido, de Monique Gardenberg. Existe um olhar humanista e curioso de Carlão Reichenbach que mede cada personagem, de cima abaixo, e parece satisfeito com o que vê. Não teria feito melhor, ele diria, sentado em uma poltrona do CineSesc e observando a entrada em cena de cada ator interpretando o drama comum de pessoas comuns - o motoboy que é cantor e sonha ser ator; a drag queen que flerta com um professor de inglês e canta canções apaixonadas que cabem muito bem em sua pele ou na pele da persona feminina que representa no palco; o acadêmico que abandonou a vida universitária e abraçou a administração de um cabaré; o cantor abandonado pela mulher, mas que ainda sonha reencontrá-la; a mulher que sai da cadeia depois de cumprir longa pena por assassinato.
Uma pequena cidade habita no cabaré Paraíso Perdido, onde se reúnem almas solitárias no fim de noite e que serve de abrigo para quem busca um pouco de diversão para tornar suas vidas menos pesadas. É um mundo rico de significados que só poderia existir na cabeça de Carlão. Ali estão vários personagens que se parecem muitos com os que criou em Anjos do Arrabalde, Garotas do ABC, Alma Corsária, Falsa Loura. E como nos filmes do paulistano gaúcho, Monique Gardenberg, que os tomou emprestado, os trata com o respeito que merece cada trabalhador.