Vamos grunhir no cinema?
Sempre que algum filme de ação ou uma adaptação de quadrinhos chega ao cinema, uma parte dos aficionados por esses dois gêneros fica irritada com os críticos que, ó céus, não conseguem ver qualidades nas obras. Alguns chegam a ofender o pobre do infeliz que perdeu duas horas de sua vida vendo uma profusão de cabeças sendo decepadas, de carros destruídos, de bombas arrasando edifícios. Como, insistem, vocês não gostaram? Normalmente o crítico é aconselhado a se inteirar mais do assunto, ler gibis e tratados esotéricos para poder falar com propriedade sobre o objeto em discussão.
Que Woody Allen que nada, bom mesmo é o diretor (quem, mesmo?) que dirigiu "Conan". Esqueçam Fellini, ignorem Clint Eastwood, cuspam em John Ford. Almodóvar? Kubrick? Joguem tudo no lixo, peguem um saco gigante de pipocas e se deliciem com o estilo do ator (quem, mesmo?) que interpreta Conan. Reparem em sua expressão facial, em seu gestual, prestem atenção em sua dicção. Ah, ele não fala, só grunhe? Melhor ainda, afinal naquela época as pessoas grunhiam mais do que falavam.
Esqueçam direção de atores, fotografia, roteiro, trilha musical. Nem se preocupem em aprender alguma coisa, em conhecer experiências de vida por meio dos personagens. Claro que a vida daquelas pessoas não tem nada a ver com a sua, a não ser que você também seja um decepador de cabeças (o que hoje em dia é ilegal e dá cadeia). Mas por que você iria querer ver nas telas algo parecido com sua vida? O bom mesmo é dirigir em alta velocidade, explodir umas bombas, despachar uns terroristas para o inferno, degustando um bom saco gigante de pipocas.
Sabe aquele curso de inglês que você queria fazer? Esqueça, agora a moda é grunhir.