Em São Paulo, pai de Julian Assange destaca o papel das mídias alternativas no mundo
O ativista John Shipton, pai de Julian Assange, concedeu entrevista coletiva em S. Paulo, onde participa da pré-estreia do documentário "Ithaka: a luta de Assange", de Ben Lawrence, que descreve o calvário enfrentado pelo jornalista australiano, preso desde 2019 na Inglaterra por sua atuação na mídia independente Wikileaks.
- Por Neusa Barbosa
- 28/08/2023
- Tempo de leitura 3 minutos
Em São Paulo para participar de uma pré-estreia do documentário Ithaka: a luta de Assange, John Shipton, pai de Julian Assange, mostra-se firme, calmo e incansável nesse périplo que faz pelo mundo, buscando impedir a possível extradição de seu filho para os EUA, sob a acusação de espionagem. A pré-estreia será hoje (28/8), às 19h30, no Cine Petra Belas Artes (uma outra ocorre na quinta, 31/8, 19h30, no Recife, na Fundação Joaquim Nabuco). O filme estreia nos cinemas em todo o país no dia 31.
Sem ver o filho, preso desde 2019 na prisão de segurança máxima Belmarsh, na Inglaterra, desde outubro do ano passado, Shipton, de 68 anos, descreve a situação de Assange como “um assassinato em câmera lenta”. Ele faz questão de frisar sua gratidão à comunidade latino-americana e ao presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva em particular pela solidariedade demonstrada em relação a Assange. “Nunca poderei agradecer Lula o bastante. Ele levantou o caso e cobrou a imprensa em geral por não ter se solidarizado com meu filho. Da mesma forma, os governantes da Argentina, Chile, Colômbia tem-se manifestado em favor dele. Sou muito grato”.
Indagado sobre se seu filho veria com bons olhos ver concedido um eventual asilo político no Brasil, Shipton respondeu: “Não sei se ele gostaria de viver aqui, mas certamente gostaria de estar livre”.
Shipton também analisou as mudanças que, a seu ver, ocorreram nas mídias mundiais nos últimos anos como resultado das ações de Assange no Wikipedia. “Nos últimos 14 anos, primeiro as mídias convencionais manifestaram apoio por Julian. Depois, começaram a apoiar governos em sua perseguição. No entanto, o que ocorreu foi que o interesse do público se moveu dos meios de comunicação de massa. O interesse do público está cada vez mais no que se chama de ‘mídia alternativa’. É lá que buscamos nossas informações. É essa mídia que hoje está espelhando a Wikileaks de Julian Assange”.
Eleições norte-americanas
Indagado sobre se pensa que Donald Trump, caso eleito novamente presidente norte-americano em 2024, poderia favorecer a libertação de seu filho - um tema abordado no documentário que ele divulga -, Shipton preferiu uma evasiva prudente: “Não falarei mal de alguém que pode voltar a ser presidente”, disse, sorrindo. No entanto, ele frisou que o filho de Trump prometeu que seu pai “teria um olhar bondoso” para com Assange. Outro pré-candidato democrata, Robert Kennedy Jr., também já teria manifestado sua intenção de suspender o pedido de extradição de Assange, caso fosse eleito (o pedido foi rejeitado em primeira instância por uma corte inglesa, por motivos de saúde de Assange, mas o governo Joe Biden apelou da decisão). De qualquer modo, observou Shipton, esse assunto “estará na agenda da próxima eleição norte-americana”.
Perguntado sobre se o trabalho de Assange poderia evitar novas tragédias no mundo, Shipton respondeu: “A mera divulgação de um telegrama no Iraque (relativo a um massacre de civis por soldados norte-americanos) parou uma guerra. A descoberta de que a polícia da embaixada do Equador na Inglaterra não era leal ao Equador levou à tomada de providências que garantiram 5 anos de estabilidade ao seu governo. Então, eu acredito nisso, sim”.