20/05/2025

Premiado diretor de curtas de animação, Marão estreia na direção de longas

Apesar de dizer que o curta tem “um formato nobre”, o diretor de animações Marão acreditava que “tinha de fazer um longa”, mesmo que fosse só um. Com mais de 25 anos de carreira, que começou com Cebolas Azuis, em 1996, ele alternou, nesse tempo, trabalhos de encomenda, como propagandas e vinhetas para televisão, com seus próprios curtas, como Chifre de Camaleão, premiado no festival Anima Mundi, Eu Queria ser um Monstro e Engolervilha.

“Eu queria poder desenvolver uma história maior, passar um pouco mais de tempo com os personagens.” O resultado desse desejo é o divertido Bizarros Peixes das Fossas Abissais, protagonizado por uma mulher com superpoderes esquisitos que, acompanhada de uma tartaruga e uma nuvem, mergulha numa jornada ao fundo do oceano, habitado pelas mais excêntricas espécies. Os personagens são dublados por Natália Lage, Rodrigo Santoro e Guilherme Briggs, respectivamente.

Entre a ideia até o lançamento do filme, Marão conta que se passaram 10 anos, sendo 6 deles trabalhando efetivamente no longa todos os dias com uma equipe pequena. “Não havia um roteiro fechado. A gente ia criando conforme o filme era feito. O trabalho de um dia inteiro resultava em 4 segundos do filme. Além disso, o filme foi feito de maneira cronológica, o que não é um jeito comum de se fazer.”

Incomuns também são os personagens, em especial a protagonista, cujo traseiro esconde um gorila, uma mutação que ela invoca o tempo todo. Para criar essa figura peculiar, Marão conta que a participação das mulheres da equipe, como a produtora Letícia Friedrich e a animadora Rosária. “Fui aprendendo na bordoada. Há coisas que eu havia escrito e que fiquei com vergonha Por isso, a presença delas fez diferença para o filme e para mim. Só tenho a agradecer”.

Já a atriz Natália Lage, Marão conheceu quando participou de um programa de entrevistas que ela comandava no Canal Brasil. Na época, o filme se chamava Tem um Gorila na minha Bunda. “Ela ficou impressionada com o título, e não parava de repetir. A voz dela se encaixava muito bem com a personagem. Acabei fazendo o convite, e ela topou”.

Para mergulhar nas profundezas abissais do mar, o diretor fez bastantes pesquisas, especialmente em relação à aparência dos peixes. Embora sejam figuras estilizadas para um efeito até cômico, esses animais têm inspiração na realidade. “Toda vez que alguém desce aos 6 mil metros do fundo do mar, encontra um peixe novo. E o filme segue a ordem correta da descida, da aparência dos animais conforme seu habitat.”

Marão, que já foi presidente-fundador da ABCA (Associação Brasileira de Cinema de Animação), conta que, nesses mais de 100 anos da animação brasileira, o formato nunca esteve tão bem no país. “Graças a editais, nos últimos 20 anos, tem sido reconhecida em todo o mundo. No momento, 40 longas estão sendo produzidos em todas as regiões, e quase 40% são dirigidos por mulheres”, comemora.