Angelo Defanti e Luis Fernando Verissimo (Crédito: Divulgação)
Angelo Defanti não é estranho ao universo de Luis Fernando Verissimo. Afinal, começou sua carreira com dois curtas baseados em crônicas do escritor gaúcho, Maridos, Amantes e Pisantes e Feijoada Completa, e, em 2022, o longa O Clube dos Anjos. Agora, lança o documentário Verissimo, que foi exibido no Festival É Tudo Verdade e chega aos cinemas nessa quinta (02).
“A verdade é que não foi um retorno, a sensação é que jamais deixei o universo verissiano. Assim como Verissimo inaugurou a minha faceta leitor, a minha faceta de criador permanece atrelada a ele”, explica em entrevista ao Cineweb.
“Dessa vez, o universo era menos do escritor e mais da pessoa e da família, o que faz com que o filme derrube o mito do gênio por trás de uma obra e transforme o autor, essa figura inalcançável, em alguém de carne e osso. Portanto, o filme desmistifica para continuar admirando”, acrescenta.
O documentário de Defanti é observacional. Durante duas semanas, que antecedem aos 80 anos do escritor, em 2016, o cineasta acompanhou o cotidiano de Verissimo, mas também de sua família em sua casa, em Porto Alegre. O resultado foi mais de 100 horas de gravação, que foram montadas num filme de impressões.
O cineasta explica que a forma do documentário era uma tentativa de se aproximar da maneira de Verissimo se postar no mundo. “Meu acordo com ele e com a família foi registrar e oferecer ao público eventos que não pudessem estar no Google. Se há entrevistas no filme, foi porque ele as concedeu a terceiros. O filme, então, fala mais da situação da entrevista do que de seu conteúdo. A ideia foi tirar a casca dos eventos públicos e mergulhar no que acontece antes e depois, tendo como centro uma existência de timidez muito peculiar. Assim, o filme é mais sobre o agora do que sobre o passado.”
Figura fundamental da literatura brasileira da segunda metade do século XX – especialmente da cômica, com suas conhecidas crônicas das Comédias da Vida Privada – Verissimo é discreto em sua vida pessoal e, nesse sentido, o filme é também revelador. A proximidade dos 80 anos, um dos temas do documentário, se apresenta de maneira pontual e significativa.
“O que mais fica impresso no filme é a passagem do tempo. A nossa relação com o tempo, que não cessa em passar, está quebrada. Ela está nos espaços, nas coisas e, inexoravelmente, nas pessoas. E tudo isso requer a nossa atenção.
O que é tão falado da observação constante do Verissimo me aparenta ser a generosidade da atenção para com o mundo. Dediquemos mais atenção ao pequeno, é nele que está a vida”, conclui Defanti.
