Vitória - Na última noite competitiva do festival, dois longas conectados com o tema da imigração ocuparam a tela do Sesc Glória: a ficção catarinense Porto Príncipe, de Maria Emília Azevedo, e o documentário/animação paulista Jovem que desceu do norte, de Ana Teixeira. Além disso, houve a homenagem aos 25 anos do Canal Brasil.

O festival encerra-se nesta noite de sábado (23/9), com a exibição do longa Lô Borges: Toda Essa Água, de Rodrigo de Oliveira e Vania Catani) e as premiações do festival.

Imigrações

Em Porto Príncipe, o foco está na relação delicada e contraditória que se estabelece entre uma mulher de origem alemã, Bertha (Selma Egrei), e Bastide (Diderot Senat), um imigrante haitiano que ela contrata para ajudá-la em serviços em sua chácara. O filme dá oportunidade para que se discutam o racismo e intolerância que cercam estrangeiros num novo território.

Diderot Senat, um imigrante haitiano verdadeiro que não é ator profissional - e venceu o prêmio de melhor ator no mais recente Cine PE -, empresta ao papel uma verdade que ele traz no olhar, no corpo e na pele e é o grande trunfo do filme. Um tema como esse, ambientado num estado como Santa Catarina, marcado por forte imigração alemã e italiana, com população de maioria branca, sem dúvida remete a um tom político, que a direção não torna tão veemente, mas está lá. A narrativa encaminha-se mais a uma atmosfera intimista, retratando o choque que a presença do jovem negro traz à família de Bertha, notadamente seu filho.

Em Jovem que desceu do norte, a diretora recolhe depoimentos de migrantes nordestinos que vieram para o sudeste do País, usando a animação para criar uma camada lúdica que ilustra ou complementa seus relatos e sonhos.

Curtas

Dirigido por Mariana Jaspe (RJ), o curta Deixa traz uma Zezé Motta em estado de graça, interpretando Carmen, uma mulher madura que vive um romance com um jovem (Dan Ferreira) mas está na iminência de uma decisão difícil nesta relação.

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Equipes do longa "Jovem que desceu do norte" e curta " Preciso do teu auxílio para enterrar um homem" Crédito: Neusa Barbosa

Ramal, de Higor Gomes (MG), apóia-se numa narrativa marcadamente visual, com diálogos escassos, acompanhando a rotina de alguns jovens motoqueiros e os desafios que os entretêm, numa pequena estrada abandonada. Nítido e notório é o recorte de classe que limita a vida destas pessoas.

Procuro teu auxílio para enterrar um homem, de Anderson Bardot (ES), aposta numa composição elaborada de fotografia e inspirações míticas para criar uma história envolvendo uma criança, um soldado, uma mulher trans e uma mulher de preto que quer salvar seu filho.

Finalmente, Escasso, de Clara Anastácia e Gabriella Gaia Meirelles (RJ), já exibido e premiado em diversos festivais, cria um clima de mockumentary para contar a experiência de Rose (a excepcional Clara Anastácia), uma passeadora de cães que invadiu uma casa vazia, criando a própria narrativa para justificar sua permanência no local. Um filme hilariante e poderosamente político.