16/01/2025

Documentário "Toda Noite Estarei Lá" é consagrado no Festival de Vitória


Vitória - Na terceira noite competitiva, o 30o. Festival de Vitória viveu uma noite catártica, com a consagração do documentário capixaba Toda Noite Estarei Lá, das diretoras Suellen Vasconcelos e Tati Franklin. O filme retrata o calvário da cabeleireira transexual Mel Rosário - que foi impedida pelo pastor de sua igreja de frequentar os cultos e recorreu à justiça pelo direito de exercer sua fé. Enquanto isso, ela confeccionou cartazes e se colocou diariamente na porta da igreja para manifestar-se por seu direito à liberdade religiosa e contra a intolerância.

Todo este drama ocorreu a partir de 2017, na cidade de Vitória, período em que Mel, como milhões de brasileiros, enfrentou a eleição do governo autoritário e estimulador da lgbtofobia de Jair Bolsonaro, a pandemia e inúmeros percalços pessoais - o que não a demoveu de sua campanha, apesar de ter sido muito pressionada para isso, inclusive por amigos e familiares. Mel, no entanto, resistiu, como um exército de uma pessoa só, inamovível da convicção de seu direito.

Tati Franklin e Suellen Vasconcelos, diretoras, e a personagem Mel Rosário (no centro), do filme "Toda noite estarei lá " Crédito: Neusa Barbosa

No Festival Olhar de Cinema, em junho, o filme havia vencido dois prêmios - melhor direção e melhor atuação. Em Vitória, onde a história repercute muito mais de perto, pela reação entusiasmada da plateia, que aplaudiu efusivamente e se emocionou junto com a protagonista - que chorou copiosamente no palco, ladeada pelas diretoras -, é de se esperar no mínimo a consagração do júri popular.

Nesta noite de quinta (21/9), a expectativa é de outra celebração local, com a homenagem à atriz, poeta e ativista Elisa Lucinda - que é natural de Cariacica e estará presente ao Sesc Glória, sede do festival.


Curtas
Já detentor de uma larga carreira, inclusive com o prêmio de melhor curta de autor no Festival de Locarno 2022, Big Bang, de Carlos Segundo, abriu a mostra competitiva de curtas nacionais. Acompanhando a trajetória de um técnico de fogões (Giovanni Venturini), a história explora os rumos de uma inquietação pessoal e social que encontra desafogo inusitado.

Lugar de Ladson, de Rogério Borges (SP), retrata, eventualmente com um toque surreal pelos efeitos da fotografia, a aventura de um adolescente e deficiente visual durante a pandemia, que tenta marcar um encontro amoroso com seu celular. Outro concorrente paulista, Cama Vazia, de Jean-Claude Bernardet e Fábio Rogério, documenta uma exasperante jornada hospitalar do próprio Bernardet para refletir sobre o envelhecimento e a indústria da medicina.

Acima cena do curta "Big Bang", o diretor Carlos Segundo e Rogério Borges, diretor de "Lugar de Ladson" Crédito: Neusa Barbosa

Numa toada mais poética, o concorrente mineiro A última vez que ouvi Deus Chorar, de Marco Antonio Pereira, explora um ambiente rural e primitivo em que uma jovem acredita ter sido engravidada por meios sobrenaturais. E o candidato capixaba De Onde Nasce o Sol, de Gabriela Stein, igualmente elaborou uma história cheia de simbologia nas interações de três crianças com uma natureza que parece tudo, menos idílica.