10/12/2024

Festival de Vitória inicia 30ª edição com documentário sobre o aborto


Vitória – A 30ª edição do Festival de Vitória começou nesta segunda (18) com muita festa e muita coragem – especialmente por escolher como primeiro longa da competição o documentário Incompatível com a vida, de Eliza Capai (RJ), que trata do espinhoso tema do aborto.

Colocando-se em cena, a diretora conta a própria história, quando teve que enfrentar a decisão de interromper uma gravidez desejada por problemas médicos – o feto era inviável. Mesmo realizando o procedimento em Portugal, onde ela vivia e o aborto é legal, o acontecimento é carregado de sofrimento, luto e muitas perdas.


No Brasil, a diretora expande o tema, encontrando diversas personagens confrontadas com a mesma situação, mas que vivem um drama ainda maior porque, mesmo munidas de autorização legal para estes casos especiais, o acesso ao aborto eventualmente lhes é negado por alguns hospitais e médicos, além de todos os dilemas que a decisão acarreta.

Ao colocar em foco a própria vivência e a destas mulheres – algumas entrevistadas ao lado de seus parceiros, testemunhando a parte deles nestes dramas -, Eliza Capai humaniza uma questão que é extremamente polarizada por debates que enfatizam aspectos morais e religiosos precedendo a saúde, física e mental, aliás – porque não é pequeno o dano emocional causado a cada uma destas pessoas, forçadas a encarar decisões difíceis em torno do desejo de ter um filho. Evidentemente, o documentário não faz nada disso, deixando que falem por si as personagens e as situações, todas elas, dilacerantes.


De todo modo, o documentário – que foi o grande vencedor do Festival É Tudo Verdade em abril – deverá ainda alimentar um necessário debate sobre este tema já que, segundo apurado pela produção do filme, uma mulher morre no País a cada dois dias como resultado de abortos inseguros. Em Portugal, onde o aborto foi legalizado, nenhuma mulher morre por isso há 10 anos (antes, esta era a terceira causa de mortes femininas). Segundo a produtora Mariana Genescá, deverá ser lançado nos cinemas brasileiros em novembro.

Curtas capixabas
Antes do longa, foram exibidos cinco curtas capixabas, que concorrem numa mostra própria, destacando relações entre crianças, animais e seus familiares – O Passarinho Menino, de Úrsula Dart, e Trinca-Ferro, de Maria Fabíola – uma performance experimental (Ruína do Futuro, de Dorothy Czakó), uma animação (Marcha, Mastro e Fé, de Arthur Navarro) e uma narrativa explorando dilemas do transtorno bipolar (Mângata – todas as fases da lua, de Marcella Rocha).