16/09/2024

Um final de semana para todos os gostos

No primeiro fim-de-semana da Mostra, há documentário premiado, animação chinesa adulta, alegoria política, obras de veteranos e principiantes, oferecendo um cardápio variado e instigante aos cinéfilos.

Aqui estão algumas das nossas dicas para o primeiro final de semana da Mostra:


Vampira Humanista procura Suicida Voluntário

O título original desta deliciosa comédia dramática canadense, vencedora do prêmio de melhor filme na seção Jornada dos Autores do Festival de Veneza, cumpre o que promete – é exatamente a história de uma jovem vampira relutante, Sasha (Sara Montpetit), cujas presas nem sequer se pronunciaram e que se recusa a seguir o instinto familiar para obter o sangue do qual depende sua vida; e um rapaz deprimido e tímido, Paul (Félix-Antoine Bénard), que está criando coragem para se suicidar para escapar do sentimento de inadequação e do bullying infernal que sofre em sua escola.

O encontro entre os dois promete resolver o dilema da vida de cada um e o roteiro, assinado pela diretora estreante Ariane Louis-Seize juntamente com Christine Doyon, toma diversos rumos para criar um final instigante para o que poderia tornar-se um dramalhão – com espaço inclusive para um sugestivo retrato das relações familiares tanto de um quanto do outro protagonista. O clã vampiresco é particularmente impagável. E, como se poderia esperar, o humor negro jorra aos baldes. (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA

22/10/23 - 17:30

ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2


29/10/23 - 15:30

CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS











31/10/23 - 19:00




Afire
Vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim 2023, o veterano diretor alemão Christian Petzold inova aqui numa história com muitos tons e camadas em torno de um quarteto de personagens. Mais uma vez, ele escala a magnética Paula Beer (protagonista de Undine), como Nadja, uma personagem inusitada, cheia de erotismo e energia, que divide uma casa de praia com dois homens, Felix (Langston Uibel), filho da dona da casa, e seu amigo, Leon (Thomas Schubert).

A ideia é que Felix complete seu portfólio para concorrer a uma vaga numa escola de arte e Leon, um escritor, consiga levar adiante seu segundo livro. Mas, desde a viagem, obstáculos se acumulam no caminho. O carro dos dois quebra e eles têm que dividir a casa com essa mulher desconhecida, cuja presença não era esperada. Hábil roteirista, Petzold explora as expectativas frustradas especialmente de Leon, que tudo observa mas é o que menos tem coragem de seguir os próprios impulsos.

Enquanto isso, outros elementos entram no ambiente, como a ameaça de incêndios florestais na região e a presença de um salva-vidas, Devid (Enno Trebs), que aumenta a temperatura erótica entre o quarteto.

Uma das grandes qualidades do diretor e roteirista alemão é conseguir atingir notas diferentes numa mesma narrativa, alternando drama e comédia de uma forma bastante rica e equilibrada, inclusive com a chegada de outros personagens na trama. Por isso, seu filme fala de muitas coisas e emana tantos sentimentos, abrindo uma perspectiva coral que o torna tão aberto a interpretações. (Neusa Barbosa)

RESERVA CULTURAL - SALA 1






21/10/23 - 21:10
KINOPLEX ITAIM SALA 2












23/10/23 - 17:20
CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS





28/10/23 - 19:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA
01/11/23



Armadilha
O velho debate entre Nature (o inato) e Nurture (o adquirido) ganha tons bucólicos neste drama búlgaro, que toma seus cenários naturais como um dos pontos fortes na construção da narrativa.

Dirigido por Nadejda Koseva, o filme tem como protagonista um homem idoso, Yoyo que vive às margens do Danúbio. Na mesma região há um grande javali selvagem que se torna objeto de caça de um empresário francês. Mas, para atingir seu objetivo, este precisa contar com a ajuda do outro homem.

Ao contrário do prefeito e do chefe de policia local, facilmente compráveis, Yoyo se recusa a ajudar, mantendo-se fiel ao seu princípio de amor e proteção da natureza. Ele também recolhe o lixo deixado na ilha, função que o poder público não cumpre, e joga tudo na porta do prédio da prefeitura como forma de vingança e alerta.
Armadilha não é um filme ingênuo, nem seu protagonista um homem idealista como pode parecer. Ele toma atitudes, e o longa não busca saídas românticas para a disputa de micropoder que guia a narrativa, tudo isso amparado na bela fotografia de Kiril Prodanov, que destaca a beleza natural da região. (Alysson Oliveira)

CIRCUITO SPCINE LIMA BARRETO – CCSP 21/10/23 - 15:00
INSTITUTO MOREIRA SALLES - PAULISTA 22/10/23 - 16:00
CINE SATYROS BIJOU 26/10/23 - 20:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1 30/10/23 - 17:40

O Estranho
Dirigido por Flora Dias e Juruna Mallon, em coprodução entre o Brasil e a
França, o filme integrou a seção Fórum do Festival de Berlim 2023. O enredo elege como cenário deflagrador o aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, colocando em foco os deslocamentos humanos e os sinais que se acumulam num mesmo local das transformações urbanas e históricas enquanto as pessoas passam.

A personagem que dá o gatilho ao enredo é Alê (Larissa Siqueira), funcionária do setor de transporte de malas do aeroporto, que é portadora de uma série de memórias em torno daquele lugar onde ele foi construído. Este centro de chegadas e partidas, que ainda guarda um resquício de mata nos seus arredores, tem em seu passado uma série de ocupações, de camadas de tempo, em que se acumulam vestígios de populações diversas, como os povos indígenas.

Tanto quanto o aeroporto, o filme é sobre trajetos de pessoas e a sobreposição de camadas de culturas que se somam, como num sambaqui,
contendo histórias que, no entanto, precisam ser decifradas, ditas, recuperadas. Por isso é importante que, numa narrativa que oscila entre os tons realista e confessional, se dê voz, num determinado momento, a personagens indígenas de várias nações, não se esquecendo de incluir uma menção à herança africana através da personagem Sílvia (Patrícia Saravy), namorada de Alê. No elenco, ainda se destacam Rômulo Braga, como um supervisor sindicalista, e Helena Albergaria, como uma estudiosa do local (a atriz fez também a preparação do elenco). (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
22/10/23 - 13:30
(ÚLTIMA SESSÃO)

Faculdade de Artes 1994
Concorrente na última edição do Festival de Berlim, esta animação adultaé assinada por um veterano do gênero na China, Liu Jian, que já havia competido em Berlim em 2017 com outra obra do gênero, Hao ji le (Have a Nice Day) - que partiu do festival alemão, onde teve sua première, para 50 outros festivais. Além da técnica, muito realista, o novo filme baseia-se um roteiro, assinado pelo diretor ao lado de Lin Shan, que ambiciona traçar o retrato de uma geração.

Ambientado nos anos 1990 numa escola de arte do sul da China, o enredo acompanha os dilemas de um grupo de jovens alunos, confrontados com suas escolhas de vida, seus amores e também pela entrada massiva de influências da arte ocidental. É muito curioso, para um público ocidental, observar como esses jovens encaram artistas como Beethoven, Debussy e falam de Picasso e Matisse, sendo enraizados numa realidade tão diferente da europeia. Mas esse, afinal, é o ponto-chave.

Uma curiosidade é a voz do premiado cineasta chinês Jia Zhang-ke, emprestada a um artista que estudou na escola do filme e que volta do Ocidente para dar seu depoimento aos alunos anos depois. Sem dúvida, o choque entre culturas e a possibilidade de trocas entre o Oriente e o Ocidente estão em primeiro plano na
história. (Neusa Barbosa)

SATO CINEMA













21/10/23 - 16:15
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2

23/10/23 - 13:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
30/10/23 - 15:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1

01/11/23 - 15:30


Folhas de Outono
Vencedor do Prêmio do Júri em Cannes 2023, o novo filme do finlandês Aki Kaurismaki reafirma sua fé minimalista para desenvolver um romance difícil entre dois trabalhadores melancólicos (Alma Pöysti e Jussi Vatanen). Perdidos em Helsinque, entre as incertezas de seus empregos precários e do alcoolismo dele, os dois são uma espécie de retrato de uma contemporaneidade que não dá espaço para expressão de sentimentos nem utopias. Ambos parecem mover-se na vida assim como os zumbis de um filme que vão assistir no cinema um dia.

As referências cinematográficas, aliás, são muitas, desde as menções explícitas a Bresson e Godard - justamente numa comparação irônica com o filme de zumbis -, quanto nos muitos cartazes mostrados nas paredes, até mesmo num bar. Até o cachorrinho que a moça adota se chama Chaplin - e o toque de doçura final da história pode ser mesmo chamado de uma homenagem ao genial vagabundo.

Kaurismaki afirma-se, neste novo título, como um legítimo herdeiro da concisão dramática de Chaplin, com seus personagens quase mudos, inarticulados, carregados por uma vida que, se não é propriamente pobre, está no limite da sobrevivência. Nesse contexto, até as emoções parecem um luxo, mas o diretor extrai a humanidade de seus anti-heróis com a delicadeza discreta que lhe é peculiar. (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
21/10/23 - 15:45
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
23/10/23 - 13:30
CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS





24/10/23 - 21:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1

29/10/23 - 17:15

Não espere muito do fim do mundo
O humor corrosivo do cineasta romeno Radu Jude é conhecido dos admiradores, que seguem o rastro de filmes exibidos no Brasil, caso de Aferim! (2015), Eu não me importo se passarmos à História como bárbaros (2018) e Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental (2021) - este lançado nos cinemas.

Sua ironia ácida e sem sutilezas para o politicamente correto tempera suas crônicas sobre seu país, marcadamente políticas e pintando um retrato nuançado de inúmeras doenças sociais contemporâneas, não exclusivas da Romênia, aliás.

Sua protagonista aqui é a jovem Angela (Ilinca Manolache), uma assistente de produção sobrecarregada de trabalho, levando uma vida precária e estressante, na maior parte do tempo dirigindo seu carro no trânsito infernal de Bucareste - cujos motoristas, inclusive ela, disparam impropérios um contra o outro com uma velocidade muito superior ao desempenho de seus carros.

Vivida com muita energia pela atriz, Angela torna-se facilmente um protótipo de mulher dos dias de hoje, espremida num mundo do trabalho insensível, subordinado aos interesses de vizinhos mais ricos da Romênia - e a definição do país como uma espécie de primo pobre dentro da União Europeia é, mais uma vez, lembrada por aqui, a partir do detalhe de que o atual trabalho de Angela é um projeto de filme institucional para produtores austríacos. Para relaxar, Angela cria para si mesma um alterego no Tiktok, recorrendo a um filtro que a transforma em Babita - um protótipo de macho devasso e desbocado que se torna uma caricatura cruel de toda a extrema desumanidade a que ela é submetida.

Às imagens em preto-e-branco desta Angela moderna, o diretor contrapõe imagens coloridas de trechos de um filme romeno de 1981, Angela Goes On (Angela Merge Mai Departe), de Lucian Bratu, que focaliza uma outra mulher perdida no trânsito, a motorista de táxi vivida pela atriz Dorina Lazar. Correndo em paralelo, a trajetória destas duas Angelas em busca de sobrevivência atrás de um volante, sofrendo ofensas machistas e procurando brechas para alguma vida pessoal, encontra seu sentido num momento do filme - quando a própria Dorina Lazar, hoje uma velha senhora, integra o elenco, vivendo a mãe de um dos personagens entrevistados para o projeto pesquisado pela jovem.

Que o tema deste projeto seja uma campanha de segurança no trabalho a partir de depoimentos de trabalhadores acidentados é mais uma ironia perspicaz do enredo, que não perde uma oportunidade de expor as inúmeras contradições do capitalismo selvagem que substituiu a ditadura comunista de Nicolau Ceausescu, derrubado e morto em 1989. Por isso, o universo corporativo, representado pelos austríacos, tendo à frente Doris Goethe (a atriz alemã Nina Hoss), é também impiedosamente dissecado em sua hipocrisia cruel e esnobe.

Nem por isso Jude pretende apresentar os romenos como meras vítimas de sua própria exploração. Em muitos diálogos, deixa bem claro que a Romênia também está sendo cúmplice de sua própria aniquilação - e ele, como todo seu humor, não parece muito otimista, ainda que prefira falar de tudo isso com um sorriso cínico no canto do rosto.
(Neusa Barbosa)

RESERVA CULTURAL - SALA 1






21/10/23 - 18:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1

23/10/23 - 15:10
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
28/10/23 - 13:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
30/10/23 - 20:30


No Adamant
Único representante documental da competição em Berlim 2023, o francês No Adamant, do veterano Nicolas Philibert (de Ser e Ter), terminou vencendo o Urso de Ouro, constituindo outra representação do novo prestígio que o gênero está encontrando dentro dos festivais, finalmente. Uma prova recente é a vitória do Leão de Ouro em Veneza 2022 do documentário norte-americano All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras, que disputou o Oscar da categoria.

O Adamant é uma unidade não-convencional de atendimento psiquiátrico que funciona numa instalação à beira do rio Sena, em Paris. O filme extrai sua verdade do próprio cotidiano do local, acompanhando diversos pacientes em suas atividades, que incluem música, desenho, expressão corporal e reuniões sobre a própria organização do lugar, como oficinas culinárias e a administração de sua lanchonete.

Além desta observação, através dos depoimentos é possível delinear vários aspectos da complexidade humana e do quanto é relativo o conceito de “normalidade”. Por isso, o filme comove, ainda mais pelo alerta de que esta iniciativa da chamada “psiquiatria humana” corre o risco de ser interrompida. Como lembrou o cineasta na coletiva de imprensa em Berlim, “muito se discute sobre a utilidade de destinar verbas para os esquizofrênicos, tendo em vista que não há garantias de sua cura”. Por isso, destacou a importância deste que é “um pequeno lugar de resistência”. (Neusa Barbosa)

CINEMATECA SALA GRANDE OTELO





21/10/23 - 15:00
RESERVA CULTURAL - SALA 2






25/10/23 - 13:30
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2

26/10/23 - 17:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
31/10/23 - 19:30

Presente de Deus
Presente de Deus, de Asel Zhuraeva, é o tipo de filme que só se vê em festivais como a Mostra. Vindo do Quirguistão, é um exemplar clássico do world cinema gentil, que mostra uma cultura diferente, embora nunca seja, cinematograficamente, muito diferente daquilo que já se conhece, do modus operandi estabelecido pelo gênero.

Os protagonistas são um casal de idosos sem filhos, que parecem esperar a morte que chegará em breve. Tudo muda quando alguém abandona um bebê de 6 meses na porta da casa deles. Ao saber que crianças da região estão sendo vendidas pelo tráfico de órgãos, decidem proteger o bebê.

Eles pretendem adotar legalmente a criança, mas a idade avançada de ambos é um impedimento. Então, decidem ficar com o bebê por uma via extraoficial mesmo. Agora, precisam encontrar um modo de proteger o filho “adotivo”, e proteger a si mesmos por estar cometendo um crime.

Zhuraeva, que também assina o roteiro, tem um olhar carinhoso por seus personagens, e conta com boas atuações de Toktosun Arzygulov e Gulayum Kanimetova nos papeis principais. É um filme que pede que se deixe o cinismo do lado de fora do cinema. É feito de forma delicada e um tanto despojado em seu desenvolvimento, mas é de se levar em conta que é um dos raros exemplares produzidos naquele país. (Alysson Oliveira)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 5
21/10/23 - 19:45
INSTITUTO MOREIRA SALLES - PAULISTA






22/10/23 - 20:20

Rodas e Eixos
O filme de Jumpei Matsumoto inspira-se na peça Madame Edwarda, do francês George Bataille, de 1941, transpondo a ação para o Japão contemporâneo e colocando como protagonistas um grupo de jovens privilegiados da Geração Z, cujas vidas parecem existir apenas num vácuo de prosperidade sem objetivos.

Morando em Tóquio, eles têm opções demais, o que sempre transforma a escolha num vazio. Uma cidade repleta de variedades, pulsando com luzes e dinheiro, impedindo conexões verdadeiras. Ao menos, é assim que aqui se vê seu cenário.

O filme reavalia a cultura japonesa por um prisma contemporâneo e transgressor. Há, por exemplo, um bar onde as pessoas vão para escolher homens jovens para as entreter e, eventualmente, fazer sexo. É como se fosse uma casa de gueixas recriada numa sensibilidade contemporânea.

Manami (Uri Suzuki) escolhe o jovem Seiya (Atomu Mizuishi), por quem seu amigo Jun (Masato Yano) está apaixonado. Ela acaba propondo uma relação a três, mas isso acaba não acontecendo, e ela continua saindo com o acompanhante. O amigo, por sua vez, continua se humilhando, rebaixando-se por uma amizade que é, claramente, tóxica.

Matsumoto investiga esses laços tão atemporais e, ao mesmo tempo, contemporâneos através de uma estética muito em sintonia com o presente. A peça de Bataille, encenada para alguns personagens, desperta neles sentimentos fortes – especialmente de identificação. O clássico e o moderno se encontram na tela, reafirmando sentimentos e dinâmicas que se mostram transpor o tempo e o espaço. (Alysson Oliveira)

CIRCUITO SPCINE OLIDO
21/10/23 - 18:10
CINE SATYROS BIJOU 29/10/23 - 15:00

A Sobrevivência da Bondade
Resgatando Rolf De Heer, um veterano de 71 anos que fez muito barulho no passado recente, com filmes como O País de Charlie (2013) e Bad Boy Bubby (1993), seu novo filme foi um dos concorrentes mais discutidos ao Urso de Ouro. Isso por apostar numa linguagem alegórica, dispensando os diálogos (compreensíveis em qualquer língua, pelo menos) e apostando nos fundamentos mais básicos e primitivos do cinema, a imagem e o som.

O enredo focaliza a jornada de uma mulher (Mwajemi Hussein), num tempo e lugar indefinidos. Ela é negra e aprisionada numa jaula por homens brancos, portando máscaras contra gases, e deixada, presa, no meio de um deserto, sob o sol, sem água ou comida.

A situação da prisioneira remete a várias metáforas, da colonização, da escravidão, do drama dos refugiados - cada espectador irá encontrar suas conexões a partir das situações que a mulher vai vivendo. Saindo da jaula, ela percorre paisagens desérticas - filmadas em algumas províncias do sul da Austrália, de agreste e dura beleza -, e vai encontrando várias pessoas, com as quais interage às vezes de maneira empática, outras vezes, de confronto e defesa.

É o tipo do filme que requer entrega do espectador, envolvimento com a saga desta mulher sozinha, que caminha descalça por esses lugares inóspitos, num planeta que parece ter sofrido alguma catástrofe ambiental - o que explica as máscaras dos opressores -, obtendo sapatos eventualmente de cadáveres e roupas de uma espécie de museu do colonialismo - esta uma sequência de bastante riqueza simbólica.

Tendo em vista o resultado admirável do filme de De Heer, foi surpreendente saber, na coletiva de imprensa em Berlim, que há principiantes envolvidos - caso da atriz, Mwajemi Hussein, que não é profissional, faz sua estreia na tela, assim como o diretor de fotografia, Maxx Corkindale, que registra dessa forma extraordinária as paisagens e cenários que moldam a história.

Mwajemi Hussein é também portadora de uma história pessoal inusual. Ela chegou à Austrália há 17 anos, proveniente da República do Congo, como refugiada, e hoje trabalha como assistente social. Os dramas de sua personagem na tela, portanto, não lhe são estranhos.

Indagado em Berlim sobre sua ausência de lugar de fala, como homem branco, para contar a saga da personagem negra, De Heer respondeu: “Sempre me faço muitos questionamentos toda vez que faço um filme. Mas acho que o trabalho de um diretor requer entender uma gama imensa de pessoas. Assim, sou tão qualificado quanto qualquer outra pessoa. No final, esta é tanto uma história branca quanto negra. Quem a filmar, tem que entender ambos os lados”. (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
21/10/23 - 17:30
RESERVA CULTURAL - SALA 1






25/10/23 - 15:45
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA
31/10/23 - 21:45

A Torre sem Sombra
Dirigida pelo veterano Zhang Lu, a produção chinesa caminha em torno de personagens contemporâneos de Pequim. Os principais são o crítico gastronômico Gu Wentong (Bai Qing Xin), um homem divorciado na meia-idade, pai de uma filha pequena, que mora com a irmã dele e o cunhado - porque o casal mantém um núcleo familiar mais estruturado. O pai, no entanto, visita a menina diariamente e mantém um relacionamento afetivo muito próximo com ela.

Os problemas familiares são outros, como a partida, há muitos anos, do pai, também chamado Gu (Tian Zhuangzhuang), e cuja ausência é um trauma nunca muito discutido entre seus filhos. Mais tarde, Gu filho terá notícias dele, armando uma reaproximação complicada, levada com bastante sutileza.

Outro relacionamento central é entre Gu Wentong e a jovem fotógrafa que está trabalhando para ele, Ouyang (Yao Huang). A moça é independente, divertida, inusitada, e injeta uma energia peculiar à vida de Gu e ao filme como um todo, que é bastante correto, deve estabelecer uma conexão com um público amplo - e universal até, devido aos elementos retratados. Nota-se, como é comum em filmes chineses, uma quase total ausência de um contexto ou comentários políticos e um erotismo muito controlado, praticamente ausente - no máximo, um beijo extremamente pudico entre o par principal. (Neusa Barbosa)

SATO CINEMA













22/10/23 - 13:40
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
25/10/23 - 16:45
RESERVA CULTURAL - SALA 2






26/10/23 - 19:00