Apostas na tradição e na descoberta
- Por Alysson Oliveira e Neusa Barbosa
- 18/10/2023
- Tempo de leitura 19 minutos
Veja as nossas dicas para esta esta quinta-feira (19), na Mostra Internacional de São Paulo.
Acima da água
O filme de estreia da cineasta turca radicada em Nova York, Aslihan Unaldi, explora com um viés crítico algumas das questões candentes do país - as restrições às mulheres e à liberdade de expressão. No centro, está uma família capaz de empunhar os dois temas na própria carne. Yusuf (Serhat Unaldi) é um veterano jornalista que, por ter publicado um livro político, está ameaçado de prisão. Esperando o resultado de sua apelação da sentença de 7 anos, ele reúne a família desgarrada: a ex-mulher, Alev, de quem se divorciou há anos, e as duas filhas, a caçula Yasmine e a mais velha Zeinep (Nihan Aker), que vive há anos em Nova York e traz o marido norte-americano, Stephen (Oscar Pearce).
Que um barco seja o cenário principal da história é sugestivo da situação instável, sujeita aos ventos, que vive a família. Não só pela iminência da prisão do patriarca como pelos rancores acumulados entre os membros da família, incluindo a crise matrimonial de Zeinep.
Ao contrário das produções rodadas na Turquia - embora tenha sido filmado no sul do país -, Acima da Água marca uma diferença singular na maneira não só como estas três mulheres conduzem seus corpos e desejos, com uma franqueza não habitual no cinema turco, inclusive na maneira como são fotografadas. A liberdade de comportamento dá as mãos à liberdade de pensamento que, em última instância, marcou a vida de Yusuf, um jornalista que nunca abriu mão de suas convicções e está pagando um alto preço pessoal por isso.
Um acerto na condução desta diretora estreante em longas é não estereotipar seus personagens, permitindo-lhes nuances que os humanizam todos, ao invés de satanizá-los ou santificá-los. Todos são fruto de seu contexto e de seu tempo, como demonstram inclusive as entrevistas com moradores locais que Zeinep realiza para um projeto de documentário, discutindo os efeitos da chegada maciça de refugiados à costa turca. Nestas conversas com velhos senhores e também com o jovem Ali, um empregado que tem uma função neste círculo familiar, o filme se permite uma espiada no senso comum de quem nunca partiu do país, como fez a diretora, e tem o pensamento moldado pelo discurso nacionalista do presidente Recep Tayyp Erdogan. No mínimo, esta família dissidente em todos os sentidos promove uma pequena trincada na redoma de aparências que diz “estamos todos bem”. (Neusa Barbosa)
CIRCUITO SPCINE LIMA BARRETO - CCSP
19/10/23 - 19:00
19/10/23 - 19:00
CIRCUITO SPCINE OLIDO
22/10/23 - 14:00
22/10/23 - 14:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
23/10/23 - 15:10
23/10/23 - 15:10
CINE SATYROS BIJOU
27/10/23 - 17:00
27/10/23 - 17:00
Anatomia de uma queda
Vencedor da Palma de Ouro em Cannes 2023, a terceira para uma mulher (a francesa Justine Triet), este suspense dramático se constrói a partir das expectativas e falsas pistas que criamos a partir do comportamento de sua esplêndida protagonista - magnificamente interpretada pela atriz alemã Sandra Hüller.
Desde o título, evidentemente, a história se caracteriza por um aspecto policial, sobre a ocorrência ou não de um crime - e a interpretação precisa de Sandra nos carrega de modo a obscurecer o que pode ou não ter acontecido dentro da elegante casa nos Alpes que ela compartilhava com o marido Samuel (Samuel Maleski) e o filho de 12 anos, Daniel (Milo Machado Graner).
O enredo, também escrito por Triet com o marido, Arthur Harari, se empolga de modo a não se esgotar no mistério se houve ou suicídio ou um assassinato - o que também é complicado pelo fato de o menino, único que se encontrava nas imediações da casa quando a queda ocorre, é deficiente visual, além de filho do casal. As implicações emocionais são óbvias e o filme as explora seguidamente, também no segmento em que se transforma num drama de tribunal, com tempero francês todo próprio, em sua verborragia, burocracia judicial e um viés de machismo infiltrado no tom dos discursos.
Um personagem secundário com alguma relevância é Vincent Renzi (Swann Arlaud), advogado de Sandra, que projeta alguma racionalidade nas atitudes mas também está, de algum modo, envolvido em toda a situação, por ser amigo dela.
Com bons elementos de drama e de gênero, o filme peca um pouco ao apostar um tantinho a mais no melodrama quando aponta a câmera para o menino - o que não deixa de abrir também uma brecha para os sentimentos que o acionamento da máquina judicial travou na vida desta mãe e deste filho. Já uma sequência que mostra uma DR do casal se mostra um tanto excessiva, especialmente por sua duração, jogando contra o mistério que, afinal, tem sua função em ser protegido para que o clima da história funcione. De todo modo, é um filme complexo e cheio de camadas em que os espectadores encontrarão muito material para envolver-se. (Neusa Barbosa)
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
19/10/23 - 21:00
19/10/23 - 21:00
CINESESC
25/10/23 - 14:00
25/10/23 - 14:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1
31/10/23 - 19:10
31/10/23 - 19:10
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA
01/11/23 - 16:45
01/11/23 - 16:45
O clássico de 1966 de Michelangelo Antonioni sobre um fotógrafo de moda (David Hemmings) que percebe que pode ter fotografado um crime é exibido aqui acompanhado de seu curta de 17 minutos O Olhar de Michelangelo.
CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS
19/10/23 - 21:00
19/10/23 - 21:00
CINESESC
21/10/23 - 18:30
21/10/23 - 18:30
RESERVA CULTURAL - SALA 1
28/10/23 - 15:00
28/10/23 - 15:00
Dinheiro Fácil
Na era contemporânea, a do capitalismo financeiro, a famosa equação marxista na qual dinheiro gera mercadoria que gera dinheiro com um diferencial – no caso, é o seu aumento para o dono do capital – se transformou. A mercadoria não se torna mais um elemento necessário, e, como dizem os especialista, dinheiro gera dinheiro. A comédia Dinheiro Fácil está exatamente na encruzilhada dessa dinâmica.
Dirigido por Craig Gillespie (Eu, Tonia), o filme parte de um caso real, ocorrido em 2021, quando Keith Gill (Paul Dano), um youtuber metido a engraçado, fala de finanças. Ele se considera um rebelde e acaba encontrando uma maneira de enriquecer fácil com ações de uma esquecida varejista de jogo eletrônicos, a GameStop.
Seja a Uber, a Nike ou a Research in Motion (criadora do Blackberry), Hollywood se interessa por histórias de ascensão, de como o sistema é combatido por dentro – como se isso fosse verdade. Dinheiro Fácil é produzido pelos gêmeos Tyler e Cameron Winklevoss, dois empreendedores que advogam em causa própria, vendendo no filme a ideologia do dinheiro fácil, basta empreender.
Apesar de Gillespie se mostrar mais contido, sem suas piruetas técnicas ou a histeria narrativa comum em seus filmes, Dinheiro fácil é rápido o suficiente para não dar tempo de pensarmos. A trama, inspirada no livro A rede antissocial, de Ben Mezrich, faz seus malabarismos e tentativas de humor, especialmente com os personagens ricos, interpretados por atores como Vincent D'Onofrio e Seth Rogen.
Já com os pobres, como Gill e sua mulher, Caroline (Shailene Woodley), as universitárias Riri (Myha'la Herrold) e Harmony (Talia Ryder), a enfermeira Jenny (America Ferrera), e Marcus (Anthony Ramos), ele mesmo funcionário de uma das poucas lojas abertas ainda no começo da pandemia, exatamente uma GameStop. Todos são pessoas que assistem aos vídeos de Gill, e decidem seguir seus conselhos, jogando com dinheiro e ações.
Se o filme é ingênuo ou dubiamente intencionado é uma dúvida honesta. Sua ideia de revolução consiste em pequenos investidores tomando o lugar de tubarões de Wall Street, o que não é exatamente uma revolução. Revolução seria derrubar Wall Street. E o que se prega aqui é exatamente a manutenção do sistema, em outras mãos que deverão agir exatamente como os antigos donos. Aquela velha máxima do filme O Leopardo persiste: As coisas precisam mudar para continuar as mesmas. (Alysson Oliveira)
CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS - 19/10/23 - 19:00
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2 20/10/23 - 13:30
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA
30/10/23 - 18:50
30/10/23 - 18:50
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
31/10/23 - 21:40
31/10/23 - 21:40
Excursão
Exibido na mostra Cineastas do Presente do Festival de Locarno, e escolhido como representante da Bósnia-Herzegovina para o Oscar, Excursão é uma investigação e, ao mesmo tempo, um exercício de crueldade adolescente.
Segundo longa solo na direção da montadora Una Gunjaka, o filme tem como protagonista Iman (Asja Zara Lagumdzija), uma adolescente de 15 anos que alimenta uma mentira que se transforma numa bola de neve em sua escola, descarrilhando sua vida e de todos ao seu redor. Enquanto seus colegas e a escola discutem sobre o destino, ela deixa uma história correr solta.
Numa conversa casual com outros colegas, uma menina conta a Iman que estão dizendo que ela perdeu a virgindade com um garoto que todos conhecem. Ela pergunta detalhes e, ao contrário do que todos esperam, ela não nega. Por conta disso, ela acaba de ficar mais famosa na escola, todos a olham de outro jeito. Ao mesmo tempo, a história ganha outras proporções quando, possivelmente querendo mais atenção, a protagonista vomita no pátio da escola e diz que pode estar grávida.
Há também o retrato de uma amizade tóxica. Iman tem uma melhor amiga, Hanna (Nadja Spaho), com quem não apenas divide a carteira escolar, como também conta tudo. As duas, no entanto, levam vidas bem diferentes em suas famílias. A amiga tem uma família mais estruturada, pais mais severos, enquanto Iman tem uma mãe trabalhadora que não consegue dar tanta atenção à filha e ao filho quanto queria.
Gunjaka trabalha sempre num campo de ambiguidade. Por muito tempo, desconfiamos das mentiras de Iman, mas não temos certeza. Suas amigas compram as histórias sem qualquer questionamento, mas a evolução de tudo acaba saindo de controle. Quando a história chega aos pais dos alunos, a menina já não é mais bem-vinda na excursão.
O ponto forte aqui, além do realismo empregado por Gunjaka, é a interpretação de Lagumdzija. Estreante no cinema, a atriz tem completo domínio da personagem e uma grande compreensão de suas contradições. O filme, em si, não parece ser capaz disso também, e, de certa forma, sente certo prazer em acompanhar a virada na história, quando de pequena celebridade rebelde da escola, a protagonista se torna vítima da turba. (Alysson Oliveira)
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1 19/10/23 - 17:00
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA
FREI CANECA 2
22/10/23 - 17:40
FREI CANECA 2
22/10/23 - 17:40
RESERVA CULTURAL - SALA 1
29/10/23 - 15:40
29/10/23 - 15:40
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO 31/10/23 - 19:00
Máscara de Ferro
O famoso esporte coreano Haidong Gumdo, que é muito próximo do japonês Kendo, está no centro deste drama por um viés dramático. Escrito e dirigido pelo estreante Kim Sung Hwan, o longa tem como protagonista o jovem Jae-woo (Joo Jong-hyuk), que foi selecionado para participar do campo de treinamento da equipe nacional de Gundo.
Lá, conforme é informado assim que chega, não terá contato com o mundo externo, deve deixar na entrada celular, tablet ou qualquer outro eletrônico. Ele conhece novos colegas das mais variadas idades – alguns passam anos tentando entrar. Mas a estrela da equipe é Tae-soo (Moon Jin-Seung), um homem que foi treinado pelo pai do protagonista e acabou matando o irmão de Jae-woo, o que destruiu sua família.
Aos poucos, fica claro que o objetivo de Jae-woo ali não é exatamente treinar a luta de espadas, mas a vingança. O filme se concentra de forma metódica no treinamento, que inclui não apenas um componente físico, mas também meditação. A pressão psicológica dentro do campo, aliada ao status da mente já atormentada do protagonista, recai sobre ele de forma negativa, e sua revanche se torna o objetivo cotidiano, mesmo sofrendo apenas derrotas quando confronta seu inimigo.
Kim constrói duas narrativas paralelas, marcadas pela poesia visual em contraposição à violência física e emocional enfrentada pelo personagem. Às vezes, a beleza formal sucumbe a preciosismos demais, e a busca pela estética marcadamente bonita, embora de encher os olhos, nem sempre está em sintonia com a trama em si. (Alysson Oliveira)
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 4
19/10/23 - 21:15
19/10/23 - 21:15
CINE SATYROS BIJOU 20/10/23 - 15:00
She came to me
A Berlinale abriu sua 73a edição com um filme mais leve, She Came to Me, uma comédia dramática romântica, assinada por Rebecca Miller, que desconfia do romantismo, como diria François Truffaut - mas nem tanto assim.
Num roteiro também assinado por ela, Miller entrelaça vários imbróglios sentimentais: o do compositor de óperas Steven (Peter Dinklage), enrolado com sua própria crise criativa, o casamento hesitante com a psicóloga Patricia (Anne Hathaway) e um encontro inusitado com Katrina (Marisa Tomei), uma capitã de rebocador, original desde a profissão e mais ainda no comportamento. Paralelamente, outra intriga romântica, à la Romeu e Julieta, opõe os namoradinhos adolescentes Julian (Evan Ellison) e Teresa (Harlow Jane), ele, filho de Patricia, ela filha da faxineira dela, Magdalena (Joanna Kulig), todos contra o pai adotivo e reacionário de Teresa, Trey (Brian D’Arcy James).
É o tipo da história construída para cativar os sentimentos das plateias, que andam meio esquivas às salas de cinema no pós-auge da pandemia e o faz com sensibilidade e inteligência, criando personagens femininas com mais complexidade do que a média dos filmes deste gênero. Marisa Tomei é o centro de energia da história, construindo uma personagem inusitada, imprevisível, que manifesta traços de aparente insanidade mas evolui em muito mais sentidos do que ser a louquinha do pedaço. Um acerto em cheio de casting, investindo numa atriz madura, experiente e que não tem medo de se jogar numa história com tudo o que sabe, por mais modesta que ela seja.
Uma das produtoras do filme, Anne Hathaway também se arrisca a sair do padrão bonitinha/perfeitinha de Hollywood para viver uma psicóloga que esconde na mania de limpeza sua tentativa frustrada de controlar os conflitos de seus relacionamentos, com o marido especialmente. A estupenda atriz polonesa Joanna Kulig, no entanto, tem um papel pequeno, abaixo de suas imensas possibilidades, vislumbradas no poderoso Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski, que teve três indicações ao Oscar 2018.
Na pele do compositor confuso, Peter Dinklage mostra, é claro, nuances completamente diferentes de seu premiado papel na série Game of Thrones, como o ambíguo Tyrion Lannister. Seu personagem em She Came to Me é o cúmulo da hesitação, da insegurança, o protótipo do macho mimado em crise que vai bater de frente com uma mulher de verdade, com uma força autêntica, ainda que ela se manifeste inicialmente de uma maneira questionável. Uma das melhores ideias do roteiro é indicar como “diagnóstico” de Katrina - não por acaso, nome de furacão - ser “viciada em romance”, tendo sido proibida, como terapia, de assistir comédias românticas por um ano…
Não é, certamente, o tipo de filme que deve mudar a história do cinema, nem é esse seu propósito. O objetivo é contar uma boa história com algumas nuances, com personagens interessantes e comentar, de passagem, alguns aspectos da contemporaneidade: como se depreende do próprio enredo das óperas compostas por Steven e pela bizarra reencenação Confederada da qual participa o reacionário Trey. Não está fácil este mundo em que alguns se obstinam em procurar inspirações em passados autoritários. (Neusa Barbosa)
KINOPLEX ITAIM SALA 2
19/10/23 - 21:40
19/10/23 - 21:40
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 1
20/10/23 - 14:00
20/10/23 - 14:00
RESERVA CULTURAL - SALA 2
21/10/23 - 16:10
21/10/23 - 16:10
INSTITUTO MOREIRA SALLES - PAULISTA
01/11/23 - 14:00
01/11/23 - 14:00
Tia Virgínia
Diretor do festejado As Duas Irenes (2017), Fábio Meira confirmou em seu segundo longa, Tia Virgínia, o estilo intimista, centrado em histórias familiares, com personagens, situações e diálogos muito bem-elaborados, num cinema que manifesta uma clara ligação com o público.
É fácil ver o potencial de conexão da platéia com esta história, protagonizada por três irmãs, Virgínia (Vera Holtz, soberba e vencedora do prêmio de melhor atriz em Gramado), Vanda (Arlete Salles) e Valquíria (Louise Cardoso), que desenterram suas mágoas de toda a vida num dia de Natal. Virgínia é a irmã que foi convencida pelas outras duas a renunciar a tudo o mais para cuidar da mãe inválida (Vera Valdez, numa interpretação muda mas altamente expressiva nos olhares, que lhe valeu uma menção honrosa especial em Gramado). Decorrente disso, há um mar de frustrações por parte de Virgínia, que são expostas no reencontro familiar, em que advém cobranças e confrontos que põem a nu o quanto tantas palavras vieram sendo sufocadas ao longo dos anos.
O clima claustrofóbico é reforçado pela filmagem restrita a essa casa familiar, cenário quase único, em que as irmãs se degladiam, num crescendo de emoções que desencadeiam tensões cada vez mais explícitas, em que participam também os sobrinhos (Iuri Saraiva e Daniela Fontan) e o marido de Vanda (Antônio Pitanga).
As referências teatrais assumidas pelo diretor são claras, a partir de A Casa de Bernarda Alba, de García Lorca, mencionada explicitamente numa cena, sem esquecer de Anton Tchecov e As Três Irmãs e O Jardim das Cerejeiras. Cinematograficamente, não faltam menções a Ingmar Bergman.
Mas as maiores referências são mesmo sobre sua própria família de Meira. O diretor contou em Gramado que tem uma tia parecida com Virgínia, que no caso se chama Arlete, e que serviu de inspiração direta para a protagonista vivida por Vera Holtz. Acentuando esse parentesco com a própria história pessoal, o diretor filmou em vídeo suas próprias tias lendo o roteiro do filme, material que foi dado às atrizes e serviu de ponto de partida para a construção das personagens.
Em todo caso, Tia Virgínia parece ser aquele tipo de “cinema argentino” que parte do público tanto cobra aos realizadores brasileiros, ou seja, um tipo de história familiar que tem personagens com a nossa cara, dramaticidade e em que o humor nunca falta. As interpretações, muito precisas, dão conta do que é preciso para compor um filme que é capaz de envolver mesmo quando atinge notas altas e dissonantes da aparência inicial de harmonia familiar. Por trás dessa máscara, há sangue, suor, lágrimas e drama do melhor. (Neusa Barbosa)
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO
19/10/23 - 20:45
(Sessão única)
19/10/23 - 20:45
(Sessão única)
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