20/09/2024

Encontro marcado com Antonioni

Chance de ouro para ver ou rever em tela grande alguns dos maiores clássicos da obra de Michelangelo Antonioni - “A Aventura” e “A Noite”, parte de sua trilogia da incomunicabilidade. Outros títulos brasileiros e estrangeiros estão na programação.



A Aventura
A partir de seu próprio título, A Aventura sintetiza o cinema de Michelangelo Antonioni (1912-2007), em sua ambiguidade um tanto pessimista diante da teia revolta das relações humanas. Neste filme peculiar, que abre sua chamada “trilogia da incomunicabilidade”, à qual se somam A Noite (1961) e O Eclipse (1962), ele retrata alguns casais estranhos, nenhum deles romântico, o que lhe confere um traço inovador para um filme feito na virada para os anos 1960 - certamente, um dos motivos para uma aguda incompreensão inicial diante da obra, ainda que sua première tenha ocorrido no Festival de Cannes, de onde saiu, afinal, com o Prêmio do Júri.

No enredo, Anna (Lea Massari) mantém há anos um caso com Sandro (Gabriele Ferzetti), mas não se decide a casar com ele, ainda que ele peça. Ela tem como confidente sua amiga Claudia (Monica Vitti). Um dia, os três e outros amigos partem num cruzeiro pela Sicília. Anna falava em desaparecer. E efetivamente, ela desaparece sem deixar pistas. (Neusa Barbosa)

KINOPLEX ITAIM SALA 2

















26/10/23 - 17:20
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
28/10/23 - 18:20
ESPEÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2

30/10/23 - 15:20

A Noite

Profundamente interessado em temas como a solidão e a dificuldade da comunicação humana, o cineasta italiano Michelangelo Antonioni retrata em A noite a crise de um casal burguês, Lidia (Jeanne Moreau) e Giovanni (Marcello Mastroianni), depois de dez anos de casamento. A história acompanha os dois numa noite marcada por três acontecimentos: a visita a um velho amigo, Tommaso (Bernhard Wicki), que está morrendo num hospital; o lançamento de um novo livro de Giovanni; e a ida a uma festa na mansão de uma família de milionários.

Nas exibições na Mostra, o filme é acompanhado pelo curta Vulcões e Carnaval, de 10 minutos, também de Antonioni.
(Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
26/10/23 - 13:30
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO






29/10/23 - 22:00
CINESESC




























30/10/23 - 16:20

Mussum - O Filmis
Vencedor de seis Kikitos em Gramado, incluindo melhor filme, Mussum - O Filmis, de Sílvio Guindane, injetou uma pitada de humor numa seleção do festival dominada por dramas pesados. O filme de Guindane, um ator revelado ainda criança em Gramado 1996, quando venceu um Prêmio Especial do Júri ao lado de Priscila Assum em Como Nascem os Anjos, encontra o ator ideal em Aílton Graça, que encarna o humorista e cantor Mussum com uma naturalidade impressionante, tanto numa quanto na outra chave do talento do artista, falecido em 1994. Vencedor do troféu de melhor ator, Graça resgata na tela o popular sambista e comediante, cujo nome verdadeiro era Antônio Carlos Bernardes Gomes, superando o desafio de cantar e realizar esquetes cômicas com a fidelidade e a humanidade que o personagem requer.

Além de Aílton Graça, estão particularmente bem as atrizes que interpretam sua mãe, Malvina, em duas fases: a humorista Cacau Protázio, na fase mais jovem, uma verdadeira revelação de talento dramático; e a veterana Neusa Borges, na velhice (ela também vencedora do prêmio de melhor atriz coadjuvante).

O filme tem, indiscutivelmente, a intenção e a vocação de ser popular, biografando uma figura querida no imaginário afetivo de várias gerações, destacando a luta de seu protagonista para trabalhar, vencer, tornar-se conhecido, lutando contra racismo e limitações, como a origem pobre. Uma outra atração ao longo da narrativa é destacar várias figuras famosas na vida de Mussum, como Grande Otelo (Nando Costa), Cartola (Flávio Bauraqui), Renato Aragão (Gero Camilo), pontuando sua trajetória dessas parcerias que o tornaram quem era mas também não foram, de maneira alguma, desprovidas de conflitos. (Neusa Barbosa)

CINEMATECA ESPAÇO PETROBRÁS





26/10/23 - 19:00
KINOPLEX ITAIM SALA 2















29/10/23 - 16:20

A alegria é a prova dos nove
Uma das maiores atrizes brasileiras, Helena Ignez se revelou também, há alguns anos, uma excelente cineasta. Em seu cinema, estão sempreo ao centro questões femininas e feministas, além de apurado senso estético e carinho pelos personagens. Em seu novo trabalho, ela está à frente e atrás da câmera.

A alegria é a prova dos nove é, acima de tudo, um filme sobre sua geração, sobre como as utopias e os utópicos da década de 1960 chegaram ao século XXI, num momento de profundo niilismo e obscurantismo político, cultural e ideológico.

Além de assinar o roteiro, Helena interpreta a protagonista no presente, Jarda Ícone, uma mulher realmente icônica, inspirada na sexóloga estadunidense Betty Dodson, que morreu aos 91 anos, em 2020. Jarda é uma mulher livre e forte, mas marcas do passado ainda permanecem em sua vida, e não foram resolvidas.

Ao lado do amigo Lírio Terron, interpretado por Ney Matogrosso, ela lembra de uma viagem ao Marrocos Saariano, que fizeram décadas atrás, quando um fato marcou sua vida. Nos flashbacks, a personagem é interpretada por Djin Sganzerla, filha de Helena e do cineasta Rogério Sganzerla.

A alegria é a prova dos nove é um filme sobre o Brasil contemporâneo pelo olhar da geração do desbunde. Nesse sentido, é um filme de memórias tanto para Helena quando Ney Matogrosso, com quem ela já fez vários filmes, entre eles, Luz Nas Trevas – A Volta do Bandido da Luz Vermelha.

O resultado é um experimento sensorial, repleto de cores, texturas e questionamentos sobre a arte e o estado das coisas, especialmente sobre a posição da mulher na sociedade brasileira. As décadas de silenciamento de Jarda são, de certa forma, uma metáfora para o silenciamento de mulheres vítimas de diversos tipos de violência, que só agora encontram o caminho para trazer seus traumas à tona, levando a sociedade como um todo a também lidar com a violência de gênero. E, mais uma vez, como Jarda, Helena é um ícone.
(Alysson Oliveira)

RESERVA CULTURAL - SALA 1 26/10/23 - 21:50
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA ANEXO 4 - 30/10/23 - 15:10

Paraíso em Chamas
Talvez ninguém esperasse, uns anos atrás, que o cinema da britânica Andrea Arnold se tornasse uma espécie de tendência para jovens cineastas mulheres. Mas, enfim, se tornou – o que não é ruim, se for uma espécie de ponto de partida e não apenas mera cópia de seu estilo, que combina realismo social com um olhar marcadamente feminino e para questões femininas. É como se a British New Wave chegasse ao século XXI, finalmente, assumindo esse lado.

Mika Gustafson, melhor diretora na Mostra Horizonte do Festival de Veneza, é sueca, mas seu longa ficcional de estreia Paraíso em chamas está nessa mesma aura do realismo social pelo olhar de uma diretora. Além disso, coloca ao centro personagens femininas fortes e muito bem desenvolvidas. A protagonista aqui é Laura (a excelente estreante Bianca Delbravo), uma adolescente de 16 anos, que se torna uma espécie de responsável pelas irmãs mais novas, quando a mãe some e as deixa sozinhas e sem dinheiro.

O olhar de Gustafson, que assina o roteiro com Alexander Öhrstrand, nunca é moralista ou julgador, pelo contrário. Há uma curiosidade grande sobre como esse trio de meninas, vivendo numa pequena cidade da Suécia, sobrevive e como encontram na sororidade a força para continuarem vivas.

Quando recebe uma ligação de uma assistente social dizendo que fará uma visita à casa delas para conversa com a mãe, Laura sai em busca de uma substituta para atuar como mãe durante alguns minutos. Ela encontra uma nova vizinha, Hanna (Ida Engvoll), uma jovem mulher também num momento de crise, conforme o filme revela aos poucos.

Paraíso em chamas encontra algo de lúdico para trazer esperança e força às meninas diante das adversidades. A trilha sonora também é outro momento de leveza num filme marcado por personagens em busca disso em suas vidas. Abrir o longa com a lúdica Some Sunsick Day, de Morgan Delt, é uma tremenda sacada que estabelece, logo de cara, o tom melancolicamente alegre do filme. (Alysson Oliveira)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA BOURBON POMPÉIA

26/10/23 - 13:30

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2


29/10/23 - 13:30
RESERVA CULTURAL - SALA 2 31/10/23 - 20:45


Uma Família Feliz
Baseado num roteiro do escritor policial Raphael Montes, o filme dirigido por José Eduardo Belmonte decola na crise profunda de um casal de classe média alta, Eva (Grazi Massafera) e Vicente (Reynaldo Gianecchini), a partir do nascimento de seu terceiro filho. Eles, que já têm duas filhas gêmeas de 10 anos, passam a suspeitar um do outro depois que aparecem sinais de maus-tratos nas crianças.

O forte do enredo está na produção eficiente de um clima claustrofóbico, em que a desconfiança mútua acelera a tensão, rumando para um desfecho brutal. Grazi Massafera, especialmente, está muito bem na pele desta protagonista atormentada.

É sempre muito bem-vindo ter-se um filme de gênero no cinema brasileiro, ainda mais com os valores de produção deste, que tem Monica Palazzo na direção de arte, Miriam Biderman na direção de som e Leslie Monteiro na fotografia. Mas as incongruências do roteiro se acumulam, especialmente na porção final, e comprometem bastante o resultado final.

A aposta maior parece ter sido realmente em manter o clima através de um jogo de aparências - que se traduz até na ironia do título (esta família nada tem de feliz); nos bonecos que Eva faz e que são assustadoramente semelhantes a bebês reais e assim por diante. Nada é o que parece e isto sustenta, até certo ponto a trama. (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 4
26/10/23 - 21:10
RESERVA CULTURAL - SALA 2












31/10/23 - 16:00

Novas sessões destes filmes também na programação:

Armadilha
O velho debate entre Nature (o inato) e Nurture (o adquirido) ganha tons bucólicos neste drama búlgaro, que toma seus cenários naturais como um dos pontos fortes na construção da narrativa.

Dirigido por Nadejda Koseva, o filme tem como protagonista um homem idoso, Yoyo que vive às margens do Danúbio. Na mesma região há um grande javali selvagem que se torna objeto de caça de um empresário francês. Mas, para atingir seu objetivo, este precisa contar com a ajuda do outro homem.

Ao contrário do prefeito e do chefe de polícia local, facilmente compráveis, Yoyo se recusa a ajudar, mantendo-se fiel ao seu princípio de amor e proteção da natureza. Ele também recolhe o lixo deixado na ilha, função que o poder público não cumpre, e joga tudo na porta do prédio da prefeitura como forma de vingança e alerta.

Armadilha não é um filme ingênuo, nem seu protagonista um homem idealista como pode parecer. Ele toma atitudes, e o longa não busca saídas românticas para a disputa de micropoder que guia a narrativa, tudo isso amparado na bela fotografia de Kiril Prodanov, que destaca a beleza natural da região. (Alysson Oliveira)

CINE SATYROS BIJOU 26/10/23 - 20:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 1 30/10/23 - 17:40

No Adamant
Único representante documental da competição em Berlim 2023, o francês No Adamant, do veterano Nicolas Philibert (de Ser e Ter), terminou vencendo o Urso de Ouro, constituindo outra representação do novo prestígio que o gênero está encontrando dentro dos festivais, finalmente. Uma prova recente é a vitória do Leão de Ouro em Veneza 2022 do documentário norte-americano All the Beauty and the Bloodshed, de Laura Poitras, que disputou o Oscar da categoria.

O Adamant é uma unidade não-convencional de atendimento psiquiátrico que funciona numa instalação à beira do rio Sena, em Paris. O filme extrai sua verdade do próprio cotidiano do local, acompanhando diversos pacientes em suas atividades, que incluem música, desenho, expressão corporal e reuniões sobre a própria organização do lugar, como oficinas culinárias e a administração de sua lanchonete.

Além desta observação, através dos depoimentos é possível delinear vários aspectos da complexidade humana e do quanto é relativo o conceito de “normalidade”. Por isso, o filme comove, ainda mais pelo alerta de que esta iniciativa da chamada “psiquiatria humana” corre o risco de ser interrompida. Como lembrou o cineasta na coletiva de imprensa em Berlim, “muito se discute sobre a utilidade de destinar verbas para os esquizofrênicos, tendo em vista que não há garantias de sua cura”. Por isso, destacou a importância deste que é “um pequeno lugar de resistência”. (Neusa Barbosa)

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA AUGUSTA SALA 2

26/10/23 - 17:30
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA - FREI CANECA 2
31/10/23 - 19:30

A Torre sem Sombra
Dirigida pelo veterano Zhang Lu, a produção chinesa caminha em torno de personagens contemporâneos de Pequim. Os principais são o crítico gastronômico Gu Wentong (Bai Qing Xin), um homem divorciado na meia-idade, pai de uma filha pequena, que mora com a irmã dele e o cunhado - porque o casal mantém um núcleo familiar mais estruturado. O pai, no entanto, visita a menina diariamente e mantém um relacionamento afetivo muito próximo com ela.

Os problemas familiares são outros, como a partida, há muitos anos, do pai, também chamado Gu (Tian Zhuangzhuang), e cuja ausência é um trauma nunca muito discutido entre seus filhos. Mais tarde, Gu filho terá notícias dele, armando uma reaproximação complicada, levada com bastante sutileza.

Outro relacionamento central é entre Gu Wentong e a jovem fotógrafa que está trabalhando para ele, Ouyang (Yao Huang). A moça é independente, divertida, inusitada, e injeta uma energia peculiar à vida de Gu e ao filme como um todo, que é bastante correto, deve estabelecer uma conexão com um público amplo - e universal até, devido aos elementos retratados. Nota-se, como é comum em filmes chineses, uma quase total ausência de um contexto ou comentários políticos e um erotismo muito controlado, praticamente ausente - no máximo, um beijo extremamente pudico entre o par principal. (Neusa Barbosa)

RESERVA CULTURAL - SALA 2






26/10/23 - 19:00
(ÚLTIMA SESSÃO)