A hora e a vez dos documentários
- Por Neusa Barbosa
- 05/12/2023
- Tempo de leitura 3 minutos
João Pessoa – Segunda-feira foi o dia dos documentários na programação do Fest Aruanda, registrando a passagem na competição de Peréio, Eu te Odeio, de Allan Sieber e Tasso Dourado, uma curiosa incursão na personalidade do ator Paulo César Pereio que incorpora não só as múltiplas contradições do personagem como as dificuldades da conclusão de um filme que começou há 23 anos.
Tudo começou com o quadrinhista Allan Sieber, que produziu as imagens mais antigas do ator gaúcho, hoje com 83 anos, e coletou vários depoimentos – como dos cineastas Gustavo Dahl, Pedro Rovai e Ruy Guerra, dos atores Hugo Carvana e Stepan Nercessian, bem como de suas ex-mulheres, Cissa Guimarães e Neila Tavares, além dos filhos. Vários personagens, aliás, já morreram e deixaram registradas suas memórias de convivência com Peréio, traçando o perfil de homem polêmico e imprevisível – ou seja, que todo mundo adora odiar.
Não se espere aqui nenhum apanhado da longa carreira do ator, que estrelou clássicos do cinema brasileiro, como Os Fuzis, de Ruy Guerra, Terra em Transe, de Glauber Rocha, A Dama do Lotação, de Neville de Almeida e Eu Te Amo, de Arnaldo Jabor. A proposta é retratar os altos e baixos de uma personalidade turbulenta, incontrolável, entregue a todos os impulsos e excessos, com bastante honestidade e um toque de humor. Porque é irresistível rir com a figura em vários momentos.
Barragem polêmica
Na competição Sob o Céu Nordestino, outro documentário, o cearense Memórias da Chuva, de Wolney Oliveira, resgata a dramática história da construção do açude do Castanhão, que provocou o desaparecimento, debaixo d’água, da cidade de Jaguaribara, há mais de 30 anos.
O episódio deixou atrás de si um rastro de desacertos políticos, injustiças e mágoas, relatadas por antigos moradores que não conseguem apartar-se das memórias da cidade original.
O filme é bastante eficiente em recuperar os meandros políticos do projeto da barragem, durante os governos de Tasso Jereissati (governador do Ceará) e do presidente Fernando Henrique Cardoso, pontuando o contexto político do que se mostrou um verdadeiro desastre ambiental – que não produziu os efeitos esperados e ainda deslocou a população para uma nova cidade que rapidamente se tornou um lugar quase fantasma.
Cannabis medicinal
Fora da competição, o cineasta paulista Beto Brant apresentou o documentário A Planta, em que reúne depoimentos em defesa da expansão do uso do canabidiol medicinal, ouvindo pacientes, seus familiares e também produtores do medicamento – vários sendo pais de crianças que sofrem de epilepsia ou autismo e foram estimulados a procurar neste tratamento uma alternativa que se mostrou mais eficiente para os males de que sofrem.
Em 2020, Brant havia realizado outro documentário sobre o tema, La Planta, em que registrava a legalização da cannabis no Uruguai. Este documentário foi colocado livremente no Youtube. Quanto ao novo filme realizado no Brasil, o diretor conta que ainda está em tratativas sobre sua colocação em streaming, mas nada ainda foi concluído.
Logo após a sessão, foi realizado um pequeno debate, que contou com a presença de Cassiano Teixeira, presidente da ABRACE, uma organização de apoio à pesquisa e ao acesso à cannabis medicinal, lutando pela remoção de obstáculos legais à expansão deste uso.