Irène Jacob conduz travessia em metáfora provocativa de Amos Gitai
- Por Neusa Barbosa e Alysson Oliveira
- 27/10/2024
- Tempo de leitura 5 minutos
Shikun
No cenário de um imenso edifício multifuncional, na cidade israelense de Bee’er Sheva, onde pessoas das mais diversas idades, etnias, sexos e posições políticas se misturam, a atriz Irène Jacob funciona como uma espécie de mestre de cerimônias, que conduz o olhar do público ao encontro destas reflexões que o cineasta Amos Gitai coloca em funcionamento.
Num imenso corredor, passam uma professora que ensina hebraico a estrangeiros - muitos ucranianos -; um velho lembra as Marchas da Morte nazistas; e outros personagens, que sobrepõem suas reflexões e vivências, remetendo à diversidade de Israel. Enquanto isso, os construtores do prédio discutem sem parar o seu próprio projeto: onde vamos colocar a sinagoga? O que será ampliado ou eliminado? Como na simbologia de um próprio país em constante construção e desconstrução.
Além das declarações emitidas pelos diversos personagens que circulam por estes longos corredores e, mais tarde, também por seus subterrâneos, o filme remete igualmente à peça O Rinoceronte, de Eugene Ionesco, fazendo uma referência antitotalitária que dialogava, no momento de realização do filme, com a tentativa do governo Netanyahu de interferir no sistema judicial do país. (Neusa Barbosa)
Leia também a entrevista do diretor Amos Gitai
CINESYSTEM FREI CANECA 3 - 27/10 - 13h
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO - 29/10 - 17h45
CINESYSTEM FREI CANECA 5 - 30/10/18h40
Filhos
Neste drama do dinamarquês Gustav Möeller, que competiu no Festival de Berlim 2024, brilha a eficiência dramática que brota do dilema de Eva (a ótima Sidse Babett Knudsen, de Depois do Casamento), uma agente penitenciária muito profissional mas que começa a perder o controle quando vê chegar à instituição o assassino de seu filho, Mikkel (Sebastian Bull).
Daí emerge uma história de vingança conduzida com mão segura e um clima envolvente. Uma das raras mulheres nessa grande instituição prisional, Eva é muito eficiente e respeitada. Por esse motivo, aceita-se seu pedido de ser transferida para a unidade onde ficam os presos mais perigosos e violentos, o que é o caso de Mikkel. Não se sabe exatamente qual é o plano de Eva, mas a tensão é crescente e sustentada num verdadeiro duelo entre os dois personagens, sem que Mikkel identifique, a princípio, quem é Eva.
Esta é, também, uma história de limites éticos - até onde se pode ir quando calcado nos melhores motivos? Como manter a ética profissional diante de uma pessoa que lhe fez perder a coisa mais importante de sua vida ? Evidenciando as motivações de cada um, o filme cresce por não se esgotar numa análise superficial do bem e do mal. (Neusa Barbosa)
CINESYSTEM FREI CANECA 3 - 27/10 - 20h10 (ÚLTIMA SESSÃO)
O que Queríamos Ser
Um filme que começa com dois personagens no cinema assistindo ao clássico da comédia romântica Jejum de Amor não teria como dar errado. Assumidamente romântico, sem cair na pieguice, O que queríamos ser, do argentino Alejandro Agresti, é uma declaração de amor ao poder da fantasia e às delícias de um amor assumidamente platônico.
No cinema, na primeira cena, há apenas duas pessoas na plateia. Um homem (Luis Rubio) e uma mulher (Eleonora Wexler), que assiste ao filme pela primeira vez, enquanto ele já o conhece de cor. Acabam indo a um bar tomar e comer algo, e começam uma conversa marcada pela ficção: um jogo no qual assumem nomes e personalidades diferentes, sem que o parceiro nunca saiba qual é a realidade de cada um.
Ele adota o nome de Yuri, e é um cosmonauta soviético; ela diz que se chama Irene e é uma autora de best-sellers românticos e melodramáticos. A conversa prossegue com eles criando ainda mais elementos dessas vidas fantasiosas, até que o filme nos dá o privilégio de ver a vida real de cada um. Ele é dono de um sebo especializado em ficção científica, e ela, uma viúva com um filho jovem adulto (Antonio Agresti), com quem vive e com quem se dá muito bem. Ela é editora de livros.
Todas as quintas, a dupla se encontra no mesmo bar, e é atendida pelo mesmo garçom Fermín (Carlos Gorosito). Desses encontros nasce uma amizade, um amor platônico que se recusa a se encontrar com a realidade. Cada vez mais próximos, mas sem nunca se declarar, suas vidas se tocam por aquelas horas juntos.
Agresti, que também assina o roteiro, faz um filme sóbrio e delicado contando com atuações exemplares de Wexler e Rubio, um ator de comédias num papel delicadamente cômico, como os personagens que enfrentam suas solidões e também o receio de um envolvimento romântico mais profundo. O diretor, como bem já provou em filmes como A Casa do Lago, sabe como conduzir os amantes distantes, cujos laços devem resistir ao tempo e espaço. Se, ao fim, arranca lágrimas, é com muita sinceridade e honestidade – o que eleva o filme a outro patamar. (Alysson Oliveira)
CINESYSTEM MORUMBI SALA 8 - 27/10/24 - 19:00
Parque de Diversões
Dirigido por Ricardo Alves Jr., com roteiro de Germano Melo, Parque de Diversões retrata a prática do sexo anônimo numa noite num parque. Homens em busca de outros homens, com desejos e interesses parecidos, transitam por alamedas, entre as árvores ou mesmo os brinquedos.
Um ambiente infantil durante o dia, marcado pelo lúdico, se torna, à noite, o palco do fetiche e a busca pelo prazer rápido e desconhecido. Com uma bela fotografia de Ciro Thielmann, o longa não se furta de mostrar algo de explícito, ainda que mantendo-se, de certa forma, até comportado dada a temática que permitiria muito mais.
Contando com o mesmo elenco do filme anterior do diretor (Tudo o que você podia ser), Aisha Brunno, Bramma Bremmer, Will Soares e Igui Leal, Parque de Diversões questiona, ao mostrar um amor livre, a ascensão do conservadorismo no Brasil contemporâneo, abordando o sexo como uma espécie de performance coletiva. (Alysson Oliveira)
CINEMATECA SALA GRANDE OTELO - 27/10/24 - 15:50
CINESYSTEM FREI CANECA 6 - 29/10/24 - 18:1
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