22/03/2025

Gramado amanhece abalada pela morte da atriz Léa Garcia


Gramado - Na terça-feira que teria as homenagens às veteranas atrizes Léa Garcia e Laura Cardoso, com a entrega do troféu Oscarito prevista para esta noite, a cidade de Gramado amanheceu chocada com a morte de Léa, de um fulminante infarto do miocárdio, aos 90 anos. O filho da atriz, Marcelo Garcia, receberá o troféu em nome da mãe nesta noite, no início da primeira sessão. A homenagem a Laura, de 95 anos, que continua em Gramado, foi adiada para sexta-feira.

Equipe do filme "Mais pesado é o céu" na coletiva: Silvia Buarque, Barbara Cariry, Petrus Cariry, Matheus Nachtergaele, Ana Luiza Rios e Dani Barbosa

Na coletiva do longa ficcional exibido ontem, Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry, Matheus Nachtergaele fez questão de homenagear a colega morta, com quem contracenou em Trinta, de Paulinho Machline. Vários outros atores e atrizes lamentaram a perda de Léa, uma pioneira atriz negra, que brilhou inclusive no Festival de Cannes de 1959, atuando em Orfeu Negro, de Marcel Camus, além de inúmeros outros trabalhos no cinema e na televisão.

Mais Pesado é o Céu, de Petrus Cariry, é um drama filmado no sertão cearense que tem ao centro um arremedo de família, formado pelos errantes Antônio (Matheus Nachtergaele), Teresa (Ana Luiza Rios) e um bebê. Perdidos na estrada, lutando contra a fome e o abandono, eles se tornam a metáfora de um País destroçado em que as esperanças de futuro encontram algum apoio e afeto em personagens que encontram pelo caminho, como Letícia (Dani Barbosa), empregada de um posto de gasolina, e Fátima (Sílvia Buarque), dona de uma pequena pensão. Entre o exercício dessa paternidade/maternidade precárias, o resgate do humanismo e o brado contra a violência, o filme de Petrus encontra o seu lugar na competição pelos Kikitos, exibido na mesma noite que outro concorrente cearense, o documentário Memórias da Chuva, de Wolney Oliveira - que justamente resgata a dramática história real do cenário do filme de Cariry, o açude do Castanhão, que provocou o desaparecimento, debaixo d’água, da cidade de Jaguaribara, há mais de 30 anos. O episódio deixou atrás de si um rastro de desacertos políticos, injustiças e mágoas, relatadas por antigos moradores que não conseguem apartar-se das memórias da cidade original.


Curtas
Os dois curtas da noite deram conta de uma efervescência que parece novamente tomar conta do novíssimo cinema brasileiro. Premiado com a melhor direção na mostra gaúcha, paralela à competição nacional, Sabão Líquido, de Fernanda Reis e Gabriel Faccini, aborda o dramático tema do trabalho análogo à escravidão no interior riograndense, acompanhando a saga de um trabalhador estrangeiro (Felipe Coutinho) numa fábrica clandestina de sabão.

Da esquerda para a direita: Luma Flores e Camila Cordeiro, do curta baiano "Jussara", e Gabriel Faccini, do curta gaúcho "Sabão Líquido"

O outro concorrente da noite, a animação baiana Jussara, de Camila Cordeiro, narra, de forma poética, a trajetória de uma contadora de histórias, embarcando em imagens que traduzem sua imaginação e a importância dos livros - e poucas imagens podem ser mais eloquentes do que a escada de livros que ela empilha e que conduzem às nuvens. O curta é uma fusão de técnicas, apoiando-se em aquarelas pintadas à mão pela ilustradora Luma Flores nos cenários e animação digital.

Fotos: Neusa Barbosa