Não há por que negar que o filme é bem-feito do ponto de vista técnico. O orçamento está no filme, ou seja, é visível que foi gasto em benefício de sua qualidade. Fotografia e edição de som são pontos altos. Há poucos reparos a fazer à cidade cenográfica que reproduz a Londrina do início do século XX.
Onde o filme mais peca é na dramaturgia – excessivamente melodramática. A direção de atores nunca foi o forte de Tizuka, uma falha que se repete aqui. Jorge Perrugoría e Tamlyn Tomita são as maiores vítimas de um peso excessivo na dramaticidade, prejudicados ainda mais pela obrigação de pronunciar as suas falas em português, para que fossem depois cobertas pela dublagem. Um excesso fatal, conduzindo a um artificialismo que compromete desde logo a credibilidade deste que é o grande par romântico da história.
A ambição de tentar incluir no enredo um grande número de episódios históricos atropela o ritmo. A primeira parte do filme, na verdade, refaz o primeiro Gaijin (1980), filme que lançou o nome de Tizuka. Ou seja, conta-se a trajetória de Titoe (interpretada pela mesma atriz do filme de 1980, Kyoko Tsukamoto), uma jovem imigrante japonesa que viaja para o Brasil no começo do século XX. Forma família em Londrina e seus descendentes vão atravessar as próximas décadas enfrentando os altos e baixos da economia e da política no Brasil. Ou seja, ditadura militar, redemocratização, confisco do Plano Collor, crises econômicas e o fenômeno dos “dekasseguis”, os netos e bisnetos dos primeiros japoneses, agora de volta ao Japão em busca de oportunidades, mas encontrando discriminação. Em outras palavras, material para uma minissérie. O filme é engolido por essa necessidade, um bocado artificial, de abarcar tanta coisa. Menos seria mais.
Sobram no filme, também, algumas seqüências mostrando paisagens de outras localizações geográficas, como Foz do Iguaçu e Tocantins, aparentemente com o intuito de seduzir parte dos possíveis espectadores internacionais – sendo uma co-produção nipo-brasileira, espera-se que o filme circule também em outros mercados.
Foto: Saulo Haruo Ohara