19/01/2025
Suspense Drama

Corpo

Artur é um legista solitário que fica intrigado com um corpo encontrado numa vala comum. Em suas investigações, ele descobre que a pessoa pode ter sido vitima da ditadura. Mais tarde encontrará uma moça que pode ser filha desta mulher e elucidar o caso.

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Ficcionalmente, legistas podem ser bons personagens, por explorarem a fronteira muitas vezes frágil entre a vida e a morte. Esse potencial dramático é usado no longa brasileiro Corpo, que tem como protagonista um médico dessa especialidade, interpretado por Leonardo Medeiros.

Ele é Artur, um legista que parece ter mais tato para lidar com os mortos do que com os vivos, tamanha a sua falta de habilidade para o trato social. Mas isso não o preocupa, pois ele está acomodado em sua rotina, dividindo o tempo entre o trabalho e cuidado dos pais.

Procurando introduzir uma dose de ficção no seu cotidiano, Artur gosta de inventar histórias sobre as pessoas que examina, bem como as condições em que o indivíduo morreu. E também gosta de imaginar a vida dos que ainda não morreram, como as pessoas que ele encontra nas ruas, no metrô – o que parece lhe dar um status acima de todos.

Tudo muda quando chegam à mesa de Artur um punhado de ossos e um corpo encontrado junto a uma vala comum. A supervisora do departamento (Chris Couto) acredita que o corpo é mais recente que a ossada, cuja origem pode estar relacionada com o regime militar.

Surge uma discordância entre os dois porque, para Artur, o corpo tem cerca de 30 anos e, por alguma razão misteriosa, se manteve preservado. O legista terá pouco tempo para provar sua teoria – se não for identificado em um dia, o corpo será enterrado como indigente.

Com muita sorte, ele encontra pistas nos porões da ditadura de que o cadáver era de uma guerrilheira. Por meio do nome dela, descobre que tem uma filha (Rejane Arruda) e encontra a garota – muito semelhante à suposta mãe, aliás.

Aos poucos, Corpo vai sendo montado como um quebra-cabeças. A garota, chamada Fernanda, diz não ser filha da guerrilheira e que sua mãe (Louise Cardoso) está viva. Esta, por sua vez, é um homônimo da falecida, Teresa Prado Noth. Aqui, os diretores e roteiristas estreantes, Rossana Foglia e Rubens Rewald, trabalham com uma idéia bastante comum em literatura e cinema: o duplo.

Nessa jornada, nunca fica muito claro o que é real, lembrança ou delírio de Artur. O passado surge dialogando com o presente. Assim, discute-se não a ditadura em si, mas suas implicações, anos depois de seu fim.

O trabalho dos atores é o que sobrevive melhor em Corpo. Embora viva um personagem calcado em clichês – um legista sombrio, tal qual sua sala, e solitário, como os corpos que examina – Medeiros consegue transformar Artur num ser humano. Rejane Arruda também se sai bem em vários personagens que elucidam a trama

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