Egípcio de 32 anos, nascido no Cairo, filho de uma austríaca e formado em Cinema em Nova York, o cineasta A. B. Shawky delineia um mundo com total empatia pelos deserdados da sorte ao retratar no drama Yomeddine – Em busca de um lar a saga de um leproso curado, mas coberto das marcas da doença, Beshay (Rady Gamal), e um garoto órfão, apelidado de “Obama” (Ahmed Abdelhafiz), que ele coloca sob sua proteção. O núcleo da história está na viagem pelo Egito, empreendida pelos dois e um burrinho, rumo ao sul, onde Beshay sonha reencontrar a família que o abandonou, ainda na infância, num leprosário.
O enredo explora habilmente a ignorância e o preconceito que cercam a hanseníase – que, no Egito, especialmente nas áreas rurais, é vista não só como contagiosa como maldita, por causa de uma afirmação do profeta Maomé. Nisto e em tudo o mais, portanto, o filme não foge às fórmulas emotivas, evidenciando os sofrimentos tanto de Beshay quanto do menino nessa jornada cercada de incompreensão, crueldade e algumas soluções quase mágicas.
Enfim, se há qualidades no filme, elas decorrem de sua capacidade documental de captar a dureza das condições de vida de uma parte da população egípcia. Um bom momento é quando os dois personagens chegam à ruína de um monumento milenar, especulando se pode ou não ser uma das famosas pirâmides. Até certo ponto, pode-se relevar as fragilidades, porque se trata de um trabalho de principiante, inspirado, como tantos, no bom e velho Neorrealismo. Ainda assim, ter sido selecionado para a competição principal de Cannes em 2018 foi um pouco demais.