A Peste se aproxima. Essa é a notícia que Connor (Bruce Lyons) leva ao seu vilarejo na região da Cumbria, na Inglaterra de 1348. Todos ficam apavorados, mas o garoto Griffin (Hamish McFarlane) tem um sonho místico: cavar um buraco ao lado da igreja, assim, conseguirão se salvar. Estranhamente, ninguém o chama de louco, e começam a obra, que os levará à Nova Zelândia dos anos de 1980.
Dirigido por Vincent Ward, e exibido em competição no Festival de Cannes de 1988, Navegador: Uma odisseia no tempo é uma fantasia sobre o fim do mundo e a maneira de o contornar. Sem medo de abraçar o surreal, o filme investe nos estranhamentos de homens medievais se deparando com o mundo moderno.
A fotografia assinada pelo australiano Geoffrey Simpson começa com um pretro-e-branco granulado. Mas, quando os personagens chegam à modernidade, ganha cores que realçam a cidade em seu assustador esplendor repleto de luzes, sons e pessoas. O longa assume o ponto de vista dos viajantes no tempo, por isso, tudo é estranhamento, tudo é novidade.
A religião tem um tema central aqui, mas Ward evita os esquematismos que ele mesmo cometeria anos depois em Amor além da vida – um espécie de filme espírita protagonizado por Robin Williams. Aqui, a fantasia se vale do humor dos personagens num mundo que não é o deles. A tragédia da Europa medieval dá espaço ao mundo moderno que, mesmo não sendo uma tragédia, também não é perfeito.