Que Débora Fallabela é uma grande atriz não há dúvida, e os primeiros minutos de Depois a louca sou eu são uma confirmação disso – ainda que ela nem precisasse confirmar alguma coisa. Porém, o filme parece insistir em jogar contra sua própria atriz principal. Dirigido por Julia Rezende, a partir do roteiro de Gustavo Lipsztein e baseado no livro homônimo de Tati Bernardi, o longa empenha-se em transformar sua protagonista num clichê ambulante da ansiedade e do pânico. Funciona no começo, mas, quando fica claro que é um filme de uma nota, só vai perdendo o interesse.
Há um lado bom em optar pela comédia para tentar desestigmatizar os problemas emocionais, mostrando que todo mundo tem e que devem ser tratados para que a pessoa viva melhor. Os tratamentos que a protagonista, Dani, procura vão desde a terapia até a polêmica constelação familiar (algo mostrado por um prisma discutivelmente positivo no longa), e nada funciona. A moça é uma metralhadora giratória com as palavras e emoções que borbulham em sua cabeça, e o roteiro tem a insistência em verbalizar tudo – funciona, mas só no começo.
A narrativa é quase episódica, e os personagens, excetuando a mãe da protagonista (Yara de Novaes), entram e saem sem deixar muitas marcas, sem ficar muito em cena. Nem o interesse amoroso (Gustavo Vaz) aparece muito. Essa estrutura faz o filme parecer uma colagem de crônicas com pouca coesão, e ainda menos densidade. Novamente, há um valor no filme que é falar de problemas emocionais com honestidade, mas isso não segura seus parcos 90 minutos, tornando-o uma espécie de catálogo de esquisitices de Dani, uma personagem quase intragável.
Aí está outro problema – ela é uma figura difícil, clama pela nossa empatia, mas é narcisista, e absolutamente tudo é medido a partir de seu umbigo. Pessoas assim, obviamente, existem, e personagens também, claro, mas fora a sua gama de problemas, eles têm algo a oferecer, nem que seja uma observação sobre o ser humano e o mundo, o que não é bem o caso aqui.
A voz da personagem narrando nunca abandona o filme, o que o torna ainda mais frenético e redundante. Para que contar o que está fazendo se estamos vendo que o que ela está fazendo? Por que narrar uma ataque de pânico se as imagens já nos mostram isso? Mostrar, especialmente no cinema, sempre foi mais eficiente do que contar. Talvez Depois a louca sou eu apoie-se demais nos originais de Bernardi (para agradar aos fãs?), e se esquece de que é um filme, ao invés de um livro.