07/02/2025
Documentário

Colombia in my arms

Documentário investiga a situação política e social da Colômbia a partir de 2016, quando as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) assinaram um acordo de paz com o então presidente, Juan Manuel Santos. Isso, no entanto, não garantiu a paz social do país.

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Desde suas primeiras imagens, no meio da floresta, o documentário Colombia in my arms (exibido na Mostra SP de 2020 como Colômbia era nossa), estabelece o seu tom. Um jovem limpa um rifle Galil ACE, uma arma originalmente desenvolvida e fabricada em Israel. “A mim, parece um rifle lindo, por isso cuido dele”, diz, enquanto suas mãos deslizam pela peça com carinho. “Não ingressamos porque gostamos de lutar ou de armas. Nós ingressamos pelo povo colombiano”, explica esse guerrilheiro das FARC. Dirigido pelos finlandeses Jenni Kivistö e Jussi Rastas, o filme acompanha Ernesto, um dos vários membros da organização.
 
Premiado no Festival de Göteborg, o filme começa sua narrativa em 2016, quando o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, assinou um acordo com as Forças Armadas da Colômbia, o que lhe rendeu um Nobel da Paz, colocando fim numa guerra civil de décadas. Se a ideia era, obviamente, ótima, a realidade é mais complexa do que um papel assinado.
 
Kivistö e Rastas investigam a imobilidade no país marcado, como toda a América Latina, pela desigualdade social e concentração de riquezas, controladas até hoje pelos descendentes dos colonizadores espanhóis. Em uma mansão repleta de relíquias históricas e luxo, um membro dessa elite, enquanto fuma, diz, com certo cinismo: “As classes altas são como esse cigarro. Estão ficando menores”. Mas não a ponto de desaparecer. O filme é sagaz o bastante para dar corda a esse rapaz, e ele mesmo, em sua fala, entrega claramente o peso da desigualdade social do país.
 
O que Colombia in my arms irá investigar é o peso dessa desigualdade, fomentada por anos e anos de exploração dos mais pobres, e o trágico resultado de tudo isso. Políticos fazem uma retórica vazia, sem nunca abordarem o problema com profundidade, limitando-se à demonização das FARC no Congresso. Conforme mostra o documentário, é uma situação complexa, que, para ser resolvida, não basta um acordo. A resolução depende de mexer em estruturas sociais e históricas perpetuadas por anos, o que envolve retirar privilégios dos ricos.
 
Depoimentos dos dois lados do espectro dessa luta jogam luz no país cindido. A fotografia de Jussi Rastas confere ao longa uma textura quase onírica, aproveitando-se especialmente dos tons da floresta tropical. Mas a violência perene sempre entra em cena, e acaba com qualquer possibilidade de esquecer o peso da realidade e do conflito.
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