Renato é um homem amargurado e sozinho, separado da mulher e do filho, que não consegue conviver com ele. Administrando um rancho de cavalos, ele dá aulas de equitação e sonha em treinar um cavalo campeão. Mas todos que ele escolhe são animais difíceis e um dia ele cai e sofre fraturas. O filho, Tommaso, a contragosto, volta para ajudá-lo.
- Por Neusa Barbosa
- 24/10/2023
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Ator e diretor bissexto, o italiano Kim Rossi Stuart compõe um drama num cenário raro dentro do cinema italiano, o western. Sem pretender nunca aproximar-se do tom grandiloquente do compatriota Sergio Leone neste campo, Stuart escreve e dirige uma história com bastantes referências pessoais, a partir de um conto seu, La Lotta (A Luta), que integra seu livro Le Guarigioni.
Novamente, como em seu celebrado filme de estreia, Estamos Bem Mesmo Sem Você (2006), o tema central está numa tumultuada relação pai-filho, numa família com mulher ausente. Mas o personagem vivido pelo próprio Kim Stuart, como naquele filme chamado Renato, é aqui muito mais amargo e endurecido. Ele vive sozinho no seu rancho, Brado, onde cria cavalos e dá aulas de equitação. Mas seu sonho maior, de treinar um cavalo campeão, nunca se realizou. Em parte, por conta de suas escolhas de cavalos difíceis, rebeldes, duros de treinar.
Num acidente recente com um desses cavalos, Renato sofreu algumas fraturas e está impedido de continuar suas atividades cotidianas. Seu filho, Tommaso (Saul Nanni), é levado a se reaproximar deste pai genioso, de quem se afastou há anos. Não é uma volta fácil, nem Renato facilita de qualquer maneira o gesto do filho. No meio dessa tensão permanente, Tommaso encontra motivações para ficar ao apegar-se ao próprio cavalo, que ele deve montar numa competição próxima, e também se interessa por sua jovem treinadora, Anna (Viola Sofia Betti).
Rossi compõe um personagem espinhoso, difícil de empatizar, investindo todo o esforço, aliás, no sentido contrário. Ele é um pacote vivo de raiva e frustrações que os rumos do filme não levam no sentido de uma suavização, muito pelo contrário. É possível até simpatizar com o filme por sua recusa veemente às facilitações melodramáticas comuns às produções hollywoodianas, tornando bem mais realistas as reações dos personagens, inclusive o do filho.
Entretanto, sente-se que, em algum momento, esse tom amargo passou um pouco do ponto. Stuart vai até o fim em seu drama, sem procurar finais felizes, o que é honesto, mas também não dando muito respiro para o espectador, apesar das inegáveis qualidades da produção - inclusive a bela fotografia de Matteo Cocco.