Morán é funcionários de um pequeno banco em Buenos Aires, que está entediado com seu cotidiano insosso. Ele rouba uma quantia de dinheiro, e propõe a um colega um plano mirabolante: se entregar à polícia, cumprir a pena, enquanto o amigo esconde o dinheiro. Quando ele sair da prisão, dividirão o valor. Mas o plano tem seus problemas.
- Por Alysson Oliveira
- 24/10/2023
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Em Os Delinquentes, o argentino Rodrigo Moreno desconstrói a gramática dos filmes de assalto a bancos, para a reconstruir de uma maneira vigorosa e repleta de frescor, combinando drama existencialista com uma comédia melancólica sobre pessoas em crise existencial. O começo da trama, como o roubo do banco por um funcionário, é tão banal que parece passar despercebida, quando se nota, Morán (Daniel Elías), já subtraiu uma quantia de dinheiro em sua mochila.
Morán é caixa em uma pequena agência bancária há anos, cujo tédio o consome. Roubar não é apenas conseguir dinheiro, é trazer alguma excitação à vida enfadonha. Depois de pegar o dinheiro e levar para casa em sua mochila, ele se encontra com Román (Esteban Bigliardi), um colega de trabalho tão entediado quanto ele. O plano é Morán se entregar à polícia e cumprir alguns anos de prisão, enquanto Román esconde o dinheiro e, anos depois, quando o outro sair em liberdade e ninguém mais se lembrar do crime, dividirão o dinheiro.
Mas nem tudo é simples como imaginaram. Román se torna suspeito de ser cúmplice do amigo. Uma investigadora (Laura Paredes) é contratada pelo banco para descobrir o paradeiro do dinheiro, e Román fica na mira dela – especialmente depois de visitar o colega na prisão. O filme toma então caminhos mais inesperados e inusitados.
Morán sugere ao amigo esconder o dinheiro numa região remota, numa montanha nos arredores de Córdoba. Nessa viagem, Román conhece um grupo de jovens que mais parecem hippies. Acaba se envolvendo com Norma (Margarita Molfino), que é dona de uma pousada com a irmã Morna (Cecilia Rainero), namorada de um videomaker, Ramón (Javier Zoro).
O roteiro de Moreno brinca o tempo todo, dos nomes dos personagens (todos anagramas) à maneira como a trama é narrada. Tudo é tão excêntrico que parece mera casualidade. A segunda parte do filme é ainda mais estranha, cenas se repetem com pequenas variações, personagens seguem com seus dramas, e o mundo se torna ainda mais claustrofóbico para Ramón.
Trabalhando com dois diretores de fotografia, Alejo Maglio e Ines Duacastella, Moreno filma com comprometimento formal, mas nem nunca tornar Os delinquentes um exercício de formalismo. Com pouco mais de 3 horas de duração, o longa se abre num leque de possibilidades estéticas e humanistas sem nunca cair na superficialidade ou exibicionismo técnico – embora, tecnicamente, seja irrepreensível. É um filme sobre vidas em transformação, que precisam ser desconstruídas para poder ser reconstruídas – tal qual Moreno faz com o cinema de gênero.