Johnny (Aliocha Reinert) é um pré-adolescente sensível e inteligente num pequeno mundo que parece não estar preparado para ele. Ele vive com sua mãe solo, Sonia (Melissa Olexa), o irmão mais velho e a irmã caçula. Depois que a mãe precisa fugir de um relacionamento abusivo com seu último namorado, ela se instala num conjunto habitacional em Forbach, numa região fronteiriça entre a França e a Alemanha.
É um ambiente de classe trabalhadora, marcado pelas dificuldades econômicas e sociais. Softie, dirigido por Samuel Theis, toma seu protagonista como uma resistência ao determinismo social que o sufocaria nesse ambiente em suas condições de vida. Johnny, o softie (algo como delicado) do título, é um menino cuja vida se transforma com a chegada de um novo professor Jean Adamski (Antoine Reinartz).
Ao contrário de todo mundo lá, Adamski se mostra receptivo aos interesses de Johnny, procurando mostrar-lhe , em suas aulas, outras possibilidades estéticas, como a poesia. Não custa muito, aluno e professor ficam muito apegados, a ponto de o menino fugir para a casa do outro depois de uma briga com mãe. Quando Adamski liga para ela, a mulher diz, para espanto do professor: que o garoto passe a noite ali, pois ela não o quer ver.
Johnny também conhece Nora (Izia Higelin), uma figura gentil e generosa, que de cara também se afeiçoa pelo garoto. Aos poucos, no entanto, o jovem protagonista começa a tomar consciência de si mesmo como uma pessoa detentora de desejos e vontades, o que leva a momentos complicados tanto para ele quanto para Adamski.
O filme é sobre o despertar de Johnny, sobre suas descobertas sobre si mesmo, e o prazer – nesse caso, não apenas físico. Theis, que tem em seu currículo o premiado Party Girl, filma com delicadeza e sagacidade, colando a câmera exclusivamente em seu jovem protagonista.
Um filme e um personagem desses dependem demais da qualidade do ator, e Reinert se mostra um achado. Ele é capaz de criar um personagem ao mesmo tempo, frágil mas também de força descomunal diante de um mundo regrado por um modo de vida ao qual ele não se encaixa. E, encerrar o filme ao som do clássico Child in Time, do Deep Purple, é uma tremenda de uma boa sacada, resultando numa bela cena, que remete ao final de Bom Trabalho, de Claire Denis.