Indicado ao Oscar de 2003 em duas categorias - Animação e Canção - As Bicicletas de Belleville, de Sylvain Chomet, é mais um daqueles belos desenhos animados com potencial para agradar a todos os públicos, independente da faixa etária. Com um traço que beira a caricatura e capricha na exploração dos detalhes e ambientação, o trabalho do desenhista Evgeni Tomov lembra muitas vezes uma aquarela animada, onde anárquicas criaturas que parecem saídas da imaginação de Jacques Tati surgem a cada instante. Inspiração, aliás, assumida pelo próprio diretor. Sem abrir mão de um tipo de humor mais sofisticado e contido, o diretor mantém seus personagens presos a um mundo nostálgico, identificado por uma ambientação carregada de pequenos objetos e utensílios que fazem parte do passado das famílias. A solidão e a prisão representada pela vida na grande cidade também marcam os personagens, conferindo-lhes certa melancolia. Desde o início, a casa em que mora o Campeão vai sendo cercada pelo crescimento da cidade até ficar literalmente presa entre arranha-céus e linhas elevadas do metrô. A paisagem bucólica do passado é substituída pelo rosto cansado dos passageiros nos trens que passam diante das janelas da casa. Bruno, o cão obeso, late por força do hábito. Desde menino, o Campeão é cuidado pela avó, Madame Souza, uma velhinha atarracada e disciplinadora que lhe compra uma bicicleta. Ela começa a treiná-lo para vencer um dia o grande prêmio ciclístico da França. Como uma galinha confinada em seu poleiro, a única atividade do Campeão é treinar duramente para a prova. Já adulto, com o corpo reforçado pela musculatura que adquiriu treinando com a incansável avó, o Campeão lança-se à missão de sua vida. Madame Souza e Bruno acompanham o trajeto percorrido pelo rapaz num carro caindo aos pedaços. Mas, no meio da prova, o Campeão é seqüestrado por um grupo de malfeitores e levado para a cidade de Belleville. Madame Souza parte à procura do neto, levando o fiel Bruno, e encontra abrigo na casa de três cantoras, as Trigêmeas de Belleville, que cantam num cabaré no velho estilo das crooners americanas da década de 30. A própria Madame Souza é incorporada ao grupo tocando tambor. O Campeão, enquanto isso, está sendo usado em uma experiência por um chefão mafioso que tira proveito de sua grande força física. Mas Madame Souza e suas amigas cantoras desempenharão um papel essencial para libertar o rapaz, em seqüências muito divertidas.