Nesta sólida e sensual história sobre adultério, baseada num romance do século XVIII (Point de Lendemain, de Dominique Vivant ), a bela Jeanne Moreau interpreta a entediada Jeanne, mãe, esposa e dondoca moradora em Dijon, interior da França. Casada com Henri (Alain Cuny), um editor nada atencioso como marido, ela diverte-se em visitas a Maggy, uma amiga de Paris que lhe apresenta o sedutor Raoul (Jose-Louis Villalonga). Um dia, o enciumado Henri resolve oferecer um jantar para Maggy e Raoul em sua casa. A caminho do encontro, Jeanne conhece por acaso o jovem arqueólogo Bernard (Jean-Marc Bory), que também é convidado. Todos passarão a noite na casa e a frustração sexual de Jeanne chegará ao fim.
Vencedor do Grande Prêmio do Júri do Festival de Veneza de 1958, o filme projetou internacionalmente as carreiras do diretor Louis Malle e da atriz Jeanne Moreau. Na pele desta Madame Bovary moderna e menos trágica, La Moreau tornou-se a encarnação desta sensualidade determinada e incandescente que é até hoje uma das marcas registradas da paixão segundo a visão francesa.
O escândalo provocado pela visão do adultério sem culpa enfureceu, na época do lançamento, tanto os moralistas quanto o Vaticano. O filme chegou a ser proibido então em várias cidades americanas - o que só aumentou a curiosidade em torno das cenas sensuais que, hoje, não deverão chocar ninguém. Visto atualmente, o sóbrio e intenso filme de Malle (falecido em 1995) combina, de maneira exemplar, discrição e sensualidade, preservando uma atmosfera de grande tensão sexual, sem deixar de incorporar uma nem tão sutil crítica à futilidade da burguesia francesa.