O guerreiro Sem Nome (Jet Li) chega à corte do rei de Qin (Chen Dao Ming). No século III A.C., Qin é um dos sete reinos em que se divide a região da China, então sacudida por violentas guerras. Sem Nome apresenta-se portando as armas de três dos assassinos que há tempos tentam matar o soberano – Céu (Donnie Yen), Neve que Voa (Maggie Cheung Man-Yuk) e Espada Quebrada (Tony Leung Chiu-Wai) – e garante-lhe que liqüidou todos eles, reclamando a recompensa oferecida.
O rei, porém, desconfia da veracidade das palavras do recém-chegado. Sabe que não foram poucas as vezes que sobreviveu a atentados e que o próprio Sem Nome poderia ser um assassino disfarçado. Ainda mais que a recompensa, além de de tesouros, inclui a permissão de chegar a dez passos de distância do rei.
Cada versão das histórias que fazem parte da conversa destes homens é apresentada na tela sob uma cor, tanto de figurinos como de fundo de cenários. Cinza, azul, vermelho, verde e branco se sucedem nesta paleta extraordinariamente sofisticada, na fotografia de Christopher Doyle (de Amor à Flor da Pele). Os relatos são igualmente pretextos para a apresentação de cenas de lutas lindamente coreografadas: a do Céu e Sem Nome sob chuva, embalados pela música de um músico cego; a de Neve que Voa e Lua (Zhang Ziyi) num bosque repleto de folhas soltas, cujos tons passam de amarelo a vermelho; a seqüência da escola de cartografia sob uma chuva de setas; e o duelo entre Sem Nome e Espada Quebrada voando sobre um lago.
Num filme de artes marciais, povoado só de guerreiros cujos talentos se equivalem, não deixa de ser notável que a arma mais decisiva seja a astúcia. Em seres que parecem tão frios quanto suas espadas, as paixões e a honra desempenham uma função visceral.
Uma comparação freqüente refere-se a Rashomon, clássico de Akira Kurosawa de 1950, pelo fato de os dois filmes revelarem a ambigüidade das versões de cada personagem. Mas não é menos verdade que a magnificência de algumas batalhas remete a outros filmes igualmente antológicos de Kurosawa, como Kagemusha e Ran.
De O Tigre e o Dragão, de Ang Lee, o filme empresta o detalhe dos guerreiros capazes de voar – uma metáfora tornada possível graças à incrível mágica visual que hoje o cinema é capaz de produzir. Mas em Herói as paixões são menos individuais e isto dá uma gravidade diferente ao filme.