Nove Canções foi o filme inglês mais explícito até então lançado naquele país, em março de 2005. Mesmo assim, passou sem cortes pela censura local. Quase um ano antes, havia freqüentado o Festival de Cannes, produzindo certo frisson. Na expectativa de escândalo, a protagonista, a estreante Margo Stilley, naquela altura, tinha pedido para retirar seu nome de todo o material do filme. Na estréia inglesa, ela assumiu sem problemas sua atuação.
A equação que coloca o sexo em primeiro plano no cinema sempre incorpora alguns complicadores – o que evidencia que o tema está longe de ser visto com naturalidade. Sexo é uma das mais evidentes atrações, e mesmo provocações, de que alguns cineastas lançam mão, com motivações diferentes. Com certeza, são distintas as visões de Lars von Triers em Os Idiotas e de Patrice Chéreau em Intimidade. Winterbottom, diretor dos politizados Neste Mundo e Bem-Vindo a Sarajevo, mas não estranho à paixão e ao rock’n’roll (Quero Você e A Festa Não Pode Parar), resolveu dar seu palpite.
Comparado a seus densos filmes anteriores, Nove Canções parece um pequeno adágio, uma pequena peça, enxuta, curta e sensorial. A intenção é que seja absorvido assim, pelos olhos, o caso à flor da pele entre Matt (Kieran O’Brien) e Lisa (Margo Stilley). Quem embarcar, embarcou. Quem achar pouco, ou indecente, que procure outro filme. Quem ficar, desfruta da visão dos corpos dos jovens protagonistas, que se expõem corajosamente, e pode viajar na música de grupos como Primal Scream, Black Rebel Motorcycle Club, Super Furry Animals, Dandy Warhols, Franz Ferdinand e uma trilha de piano de Michael Nyman.
Pensando bem, não foi à toa que Winterbottom escolheu contar assim uma história de amor. Ela pode ser uma visão do amor nos anos 2000 – que é bem distinta daquela dos anos 60, entrevista no agora clássico Um Homem, Uma Mulher, de Claude Lelouch, brevemente visitada em Os Sonhadores, de Bernardo Bertolucci. O que dá margem a um pensamento: será que se desaprendeu aquele tipo de intensidade amorosa ou simplesmente ela se degradou?
Winterbottom parece pensar que sim ao fazer esta escolha, por mais que aparente se desvincular de um discurso. Ao optar por este despojamento à flor da pele, ele está articulando uma declaração sobre o amor instantâneo, breve, passageiro, que desmonta todo aquele xarope romanticoso de Hollywood – ao menos, tem essa qualidade.
Quem sentir falta de outro tipo de intimidade, que busque outro filme, outra história de amor. Elas são todas mesmo muito pessoais. O que é uma história de amor a não ser um episódio completamente individual, até do ponto de vista de cada um dos envolvidos?