Assim, é fácil saber o que esperar de Kung Fusão, a começar pelo trocadilho do título. O talento de Chow de juntar artes marciais e o humor pastelão provoca certo riso inocente de quem vê, ao lado de fantásticas histórias, bem acertada sátira e bem feitos (ainda que nem sempre realistas) efeitos especiais.
Em Kung Fusão é clara sua origem pastiche de idéias e convencionalismos de diversos gêneros. De Matrix até Os Intocáveis, e, sem dúvida O Clã das Adagas Voadoras, Chow faz uma espécie de homenagem a incontáveis filmes que influenciaram sua carreira. Pode-se dizer que tantos elementos enfraqueçam a narrativa do filme, mas a paródia é uma das provas de admiração e todo o humor compensa tais falhas.
A história se passa nos anos 40, num bairro chamado Chiqueiro, uma das áreas mais degradadas de Xangai. Apesar da cidade ser ameaçada pelo Clã dos Machados, o local é bastante tranqüilo, já que não há nada para ser roubado ali. Isso até Sing (Chow) aparecer e tentar enganar a comunidade. Só a idéia de ele tentar extorquir esse pessoal com vigarices chocantes já vale todo o filme.
Mesmo assim, eis que aparece a tal gangue para saber o que está acontecendo na região. E começa o confronto entre eles (que se vestem de preto e usam pequenos machados como arma favorita), o vigarista e a comunidade que, afinal, não é tão indefesa assim. As bem coreografadas lutas são um dos pontos positivos para o filme, mostrando que as artes marciais são, na verdade, um caminho para a paz interior.
Com isso, é importante dizer que Stephen Chow não apenas busca fazer o público rir, mas aprimorar em suas produções uma estética muito particular, desenvolvida no velho método de copiar características das mais diversas fontes. Trabalhando com competência sob esse prisma, no frigir dos ovos, encontra um frescor e originalidade próprias. Apesar de pastelão, não deixa de ser um delicioso programa.