Em Wall-E, sua mais nova produção, Pixar foi mais longe: conseguiu conciliar suas palpáveis qualidades com uma mensagem educativa contundente, sem cair na mesmice ou no fastidioso discurso sobre o fim do mundo. Simples e objetiva, a animação tem potencial para render aplausos dos espectadores de todas as idades.
O filme começa com o pequeno robô faxineiro Wall-E sozinho no planeta Terra, no ano de 2700 D.C.. Sensível e humorado, ele passa seus dias em meio a montanhas de lixo, colecionando lembranças dos tempos em que os humanos viviam no planeta.
Durante os 20 minutos iniciais, não há diálogos, apenas a paciente atividade de Wall-E, recolhendo bugigangas e compactando o que sobra. Sua única companhia é uma barata, que o observa em seu trabalho diário e participa da empolgação de seus achados - como por exemplo, um velho VHS do filme Alô Dolly (1969). O robô, após 700 anos de solidão, quer amar, cantar e dançar com no musical.
Sua sorte muda quando EVA, uma máquina temperamental e agressiva, chega ao planeta em busca de seres vivos. Apesar do começo conflituoso, logo Wall-E se apaixona pela melindrosa robô. No entanto, EVA deve voltar à nave-mãe ao final de sua missão e o robô parte atrás dela.
O que se vê nas cenas seguintes explica a condição de Wall-E. Depois de terem esgotado os recursos naturais da terra e poluído todo o meio ambiente, os humanos partiram para o espaço. Esperam que em poucos anos a Terra possa ser habitável novamente. Para isso, deixam robôs faxineiros para limpar a bagunça. O problema é que, depois de 700 anos, continuam vagando pelo espaço à espera do milagre.
Dentro da temática do desenvolvimento sustentável, que tem dominado discursos políticos e empresariais atualmente, o filme surpreende por sua ironia. Com um roteiro afiado, personagens carismáticos e a exuberante técnica -- que tornou a Pixar a gigante que é hoje -- , “Wall-E” é um dos mais interessantes longas de animação do momento.