Nova York é a capital do mundo, a cidade mais cosmopolita do planeta, o destino de gente de todos os cantos, credos, raças, origens e capacidade financeira. Um filme para captar o espírito da cidade seria, portanto, cheio de nuances, etnias, opções, com pobres e ricos, mostrando porque os olhos do planeta se voltam para lá. Nova York, Eu Te Amo, que estreia em São Paulo e Rio, passa um tanto longe disso tudo e parece acontecer numa versão de universo paralelo da cidade.
Nova York, Eu Te Amo é o segundo projeto do produtor Emmanuel Benbihy, iniciado em 2006 com Paris, te amo, e promete para os próximos anos longas filmados em Xangai, Jerusalém e Rio de Janeiro. Pela forma como o projeto anda, em breve qualquer cidade com dinheiro suficiente para bancar uma dezena de curtas vai ter seu cartão postal eternizado em celuloide.
Nova York, a capital da diversidade, não é tão diversificada assim neste longa coletivo, que reúne filmes assinados por diretores como o turco-alemão Fatih Akin (Do outro lado), os indianos Mira Nair (Nome de Família) e Shekhar Kapur (Elizabeth), os americanos Brett Ratner (X-Men – O confronto final), Joshua Marston (Maria Cheia de Graça) e a atriz Natalie Portman, que dirige seu segundo curta. Os segmentos dirigidos pela atriz Scarlett Johansson e pelo cineasta russo Andrei Zvyagintsev (O Retorno) faziam parte de uma versão do longa exibida no Festival de Toronto em 2008, mas foram excluídos da versão lançada nos cinemas.
Cada diretor tinha apenas dois dias para filmar, uma semana para montar. Como é comum acontecer nesses projetos coletivos, os resultados são bastante irregulares. Os diretores com um toque mais autoral, como Mira, Akin e a até a novata Natalie Portman fazem os melhores filmes. Os demais oscilam entre o correto e o sem graça – uma avaliação que pode variar, conforme o gosto do espectador.
Como era previsto no projeto inicial, todas as histórias envolvem de alguma forma o amor, seja entre homem e mulher, pais e filhos, amigos – curiosamente, não há nenhum amor homossexual.
Como em sua maioria os diretores não são norte-americanos, não se deve esperar muita profundidade no retrato dos nova-iorquinos – embora todos os episódios sejam feitos visivelmente em busca de uma visão honesta da cidade e de seus habitantes, que parece inspirada na literatura (J. D. Salinger, Paul Auster), no cinema (Martin Scorsese, Woody Allen) ou mesmo na revista The New Yorker.
Os personagens são adoráveis – tão adoráveis que não parecem muito reais, mas vindos de uma versão higienizada de Nova York - e cabem exatamente na moldura que os diretores usam para provar alguma tese, seja sobre o amor platônico, o imortal, o filial ou mesmo sobre ideias preconcebidas.
Os nova-iorquinos, aliás, segundo o filme, têm o péssimo hábito de não serem o que parecem. Todos os personagens de Nova York, Eu te amo não são aquilo que pensamos à primeira vista. Todos eles nos surpreendem, ou surpreendem uns aos outros, ao final do filme. Um recurso, aliás, usado tão à exaustão que deixa de ser uma surpresa e se torna quase uma muleta.