A partir de um suposto bilhete real, de uma adolescente, o diretor Felipe Bragança escreveu uma carta, mandou para 14 cineastas e o resultado é o fragmentado e irregular Desassossego (Filme das Maravilhas). Os convidados – alguns individualmente, outros em dupla – realizaram fragmentos de cerca de 5 minutos que foram montados no filme numa ordem quase aleatória.
Desassossego – cujo título faz lembrar o livro de Fernando Pessoa, escrito pelo heterônimo Bernardo Soares –, como sua proposta, é um filme um tanto estranho, capaz de causar reações extremas, do amor ao ódio. Há belos momentos, mas também há o oposto. O longa faz parte de uma trilogia, chamada Coração no Fogo, da qual fazem parte A Alegria e A Fuga da Mulher Gorila, ambos de Bragança e Marina Meliande. Quem conhece o trabalho da dupla, percebe que há muito dos dois realizadores neste filme que, em boa parte, compartilha a mesma estética e as interpretações empostadas de seus trabalhos anteriores.
Em Desassossego, o fragmento que mais se destaca é o de Karim Aïnouz, um dos poucos que consegue manter uma autonomia visual. Narrativa não há em nenhuma das partes. A ideia mesmo, aqui, é provocar, contestar. Há explosões, apocalipses, uma personagem que luta com sabres de lâmpadas fluorescentes e carrega sua própria bateria automotiva.
Como A alegria e A fuga da mulher gorila, Desassossego é um filme que pede um tanto demais de seu público. Em alguns momentos, responde à altura – mas nem sempre.