Nicolás Vergara Grey é o arrombador de cofres mais famoso do Chile. Quando acaba a ditadura, em 1990, ele sai da cadeia e faz um plano de ficar longe do crime e cuidar de sua família. Mas um jovem ladrão insiste em tentar convencê-lo a participar de um golpe milionário, para realizar seus sonhos e os de sua namorada bailarina.
- Por Neusa Barbosa
- 27/03/2012
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Mistura de policial, drama, comédia, romance e fábula, não se pode acusar A dançarina e o ladrão, do espanhol Fernando Trueba, de falta de imaginação. A presença do ator argentino Ricardo Darín à frente do elenco, na pele de um experiente arrombador de cofres, também é atração à parte.
Há algumas referências ao Brasil também, incluindo um trecho de rap e música de Milton Nascimento na trilha sonora, além da presença da renomada bailarina carioca Marcia Haydée no papel de uma professora de dança.
Filmada no Chile, a história focaliza o início da redemocratização desse país, em 1990. Com o término do período Pinochet, as prisões promovem uma ampla anistia. Um dos beneficiados é Nicolás Vergara Grey (Darín), o mais famoso arrombador de cofres do país.
Já maduro, ele quer deixar para trás sua vida criminosa e se acertar com a mulher, Teresa (Ariadna Gil) e o filho Pablito (Juan Ignacio Jorquera). Mas, ao procurá-la, descobre que ela se mudou de casa, sem deixar o endereço.
A narrativa prossegue em duas chaves, uma realista, outra mais fantástica. Na primeira, Vergara Grey procura a mulher e também um antigo parceiro, Monasterio (Luis Gnecco), que lhe deve muito dinheiro. Fazendo a ligação com a segunda, está um jovem ladrão, Ángel Santiago (Abel Ayala), que importuna Vergara Grey para realizar com ele um grande roubo.
A poesia invade o filme através do romance de Ángel com uma jovem bailarina, Victoria Ponce (Miranda Bodenhofer) – que ficou muda depois de ter presenciado a prisão de seus pais, desaparecidos políticos, sobrevivendo agora protegida por uma professora (Marcia Haydée).
Victoria sonha entrar para a concorrida e elitista Academia de Dança de Santiago. Ángel tem um outro sonho – comprar um cavalo de raça, do qual cuidou quando garoto. Mas, para isso, precisa do dinheiro do roubo, que Vergara Grey reluta em aceitar.
O cavalo, aliás, dá oportunidade a cenas quase surreais, filmadas nas ruas e num parque de Santiago, fortalecendo o elemento de fábula que a história nunca perde de vista – além da beleza visual, pura e simples.
Poucos cineastas, como Trueba, conseguem fluência numa história assim. Mas o versátil diretor da comédia dramática Sedução (Oscar de filme estrangeiro em 1994), dos documentários Rua 54 (2000) e O milagre de Candeal (sobre o projeto sócio-musical de Carlinhos Brown, 2004) e da animação Chico & Rita (indicada ao Oscar da categoria em 2012) é o homem certo para atravessar essa mistura de gêneros e tons, infiltrando humor em boa parte do percurso.
O próprio Trueba assina o roteiro, ao lado de seu filho, Jonás Trueba, e do premiado escritor e roteirista chileno Antonio Skármeta (roteirista de O carteiro e o poeta). Skarmeta também faz uma ponta, como um crítico de dança.