14/01/2025
Comédia Drama

O Homem Sem Passado

Após ser assaltado e golpeado na cabeça, um homem é dado como morto. Ele recobra a consciência no hospital, mas perdeu a memória e vaga pela periferia de Helsinque, encontrando apoio em outros deserdados da sorte. Na Mubi.

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O diretor finlandês Aki Kaurismäki foi econômico ao subir ao palco do Grand Théâtre Lumière para receber o Grande Prêmio do Júri em Cannes/2002: "Em primeiro lugar, quero agradecer a mim mesmo. Depois, ao júri. Tchau!". A economia também é a principal característica do protagonista de O Homem sem Passado, tragicomédia pontuada por um humor melancólico e situada na periferia da capital finlandesa, Helsinque.

O filme, que concorreu ao Oscar de produção estrangeira, lança seus personagens bastante peculiares em meio à miséria, à falta de moradia e ao desemprego. Markku Beltola interpreta um homem golpeado na cabeça por três marginais que vai parar no hospital, onde é dado como morto. Em princípio, pensamos tratar-se de história contada a partir de flashbacks, mas o filme envereda por outro caminho. Apenas com uma bandagem em volta da cabeça, o homem praticamente ressuscita e passa a vagar desmemoriado pela periferia da cidade.

A ajuda vem de Kaisa (Kaija Pakarinen), uma dona-de-casa que mora com os dois filhos e o marido Nieminen (Juhani Niemelä) num container alugado pelo segurança Anttila (Sakari Kuosmanen). Depois de recuperado, o homem sem passado encontra não só uma moradia como um romance com a voluntária do Exército de Salvação, Irma (Kati Outinen - considerada melhor atriz no Festival de Cannes).

O humor sutil não dissipa por completo o gosto amargo de um filme onde o protagonista não possui um passado e tem de construir sua existência a partir do zero. Sem quaisquer preceitos, ele tem a liberdade de optar apenas apoiado em suas emoções e na própria capacidade de discernir o que é melhor para si próprio. No entanto, sem nome o homem não existe perante a sociedade. Ele não pode abrir conta em banco e, conseqüentemente, não consegue arrumar um emprego. A sociedade cobra um nome de todo o indivíduo mas, por trás dele, esconde a perda gradual da identidade, sujeita às crenças, às leis, às boas maneiras, à ética, todas massificadas e com rótulos de certo e errado.

Cineweb-7/3/2003

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