Para não se ter dúvida de que o mais recente filme de Francis Ford Coppola trata-se de um conto gótico, em que um dos escritores mais famosos do gênero, Edgar Allan Poe, é um personagem. Interpretado por Ben Chaplin, o autor do poema O Corvo aparece nas alucinações de outro escritor, o protagonista, Hall Baltimore (Val Kilmer), especializado em livros sobre bruxas e decadente, que está fazendo um tour pelo interior dos EUA tentando vender uns exemplares de sua mais nova obra.
A pequena cidade onde a ação se situa é povoada por tipos estranhos, uma torre com sete relógios – cada um marcando uma hora diferente – e lendas e memórias assustadoras. Seria o cenário de um filme B qualquer, mas Coppola, junto com o diretor de fotografia romeno Mihai Malaimare Jr. (com quem já trabalhara em Tetro, de 2009), é capaz de criar um clima angustiante, mesmo sem a grandiosidade e o orçamento generoso de sua versão de Drácula de Bram Stocker (!992), apostando nas imagens.
Estas transitam entre o repugnante e o belo – mas, geralmente, combinando os dois. O rosto de Elle Fanning (Um lugar qualquer), que faz a personagem-título, é uma das imagens mais fortes, com a região dos olhos coberta com uma mancha avermelhada. Sangue? Pouco importa. Aqui é o terreno das aparências, das incertezas e das ilusões.
Os personagens nem sempre são o que parecem ser. Quem é o xerife Bobby LaGrange (Bruce Dern)? O representante da lei pretende se unir a Hall para escrever um romance sobre um crime que há anos assombra a cidade e até então não foi resolvido. Virgínia, que parece estar morta, está ligada a esse fato. E o fantasma de Poe irá ajudar na investigação. Mas, além disso, Hall precisa lidar com os fantasmas de seu próprio passado, o que envolve a morte da filha adolescente num acidente de barco – estranhamente, a mesma forma como morreu um filho de Coppola, em 1986.
Virgínia é um filme B de grife, que, nas mãos de outro diretor poderia ser uma bobagem sem muito sentido. Se, por muitas vezes, percorre caminhos da obviedade, Coppola faz um conto gótico que não envergonha o gênero, ainda que precise reencontrar o quê de especial que havia em sua carreira.