Diante da enxurrada de thrillers óbvios, ou filmes de suspense que miram mais os sustos banais do que um eficiente desenvolvimento de roteiro, é bem-vinda a originalidade do francês O amor é um crime perfeito. Dirigido pelos irmãos Arnaud e Jean-Marie Larrieux (de Pintar ou Fazer Amor, de 2005), o filme adapta o romance Incidences, de Philippe Djian (autor de Betty Blue, origem do filme cult de 1986) e é protagonizado pelo sempre magnético ator Mathieu Amalric.
Amalric entra muito naturalmente na pele do professor universitário Marc, que leciona criação literária na Universidade de Lausanne, na Suíça – cujo design futurista, com grandes janelas e rampas no meio de um cenário repleto de neve oferece rapidamente um paralelo com um lugar fora do comum, quase uma paisagem espacial.
A estranheza, no entanto, nasce mais das relações humanas desta história, em que Marc faz jus à fama de conquistador das inúmeras belas alunas jovens que frequentam seu curso – e que ele costuma levar à sua casa, um refúgio reservado, no alto de uma montanha, que ele divide com a irmã, Marianne (Karin Viard).
Quando desaparece uma de suas alunas e conquistas, Barbara (Marion Duval), o professor se torna alvo de suspeitas. Ao mesmo tempo, a madrasta da moça, Anna (Maïwenn), passa a procurá-lo. A princípio, parece apenas querer saber informações sobre a enteada. Mas logo surge uma forte atração entre ela e Marc.
Ao mesmo tempo, aparecem indícios do estranho relacionamento que une Marc e sua irmã, pontuado pelo ciúme e pela manipulação mútua, e também, por parte dela, de um flerte com Richard (Denis Podalydès), chefe do departamento de Literatura a que Marc está subordinado e apaixonado por Marianne.
É de jogos de sedução e poder que trata realmente esta história, que tira partido de um notável elenco, em que se sobressai outra aluna de Marc, Annie (Sara Forestier) – cuja impetuosidade acrescenta algumas doses de perigo a situações já bastante tensas.
Mais do que um thriller voltado a desvendar a ocorrência de algum crime, o enredo foca em expor a incapacidade de diversos personagens em lidar com suas próprias obsessões, tendo ou não total consciência delas. Por essa dedicação em apagar as próprias pistas e liberar algumas pequenas surpresas em doses homeopáticas é que o filme merece maior atenção. Vive la différence!