16/02/2025
Filme-ensaio

Em três atos

Duas atrizes, Andréa Beltrão e Nathalia Timberg, e duas bailarinas, Angel Vianna e Maria Alice Poppe, encarnam reflexões de textos de Simone de Beauvoir num filme que mescla dança e atuação, embalado por trilha sonora que mistura clássico e popular.

post-ex_7
Diretora experimentada de obras sobre temas realistas, como a tortura (Que bom te ver viva), a identidade indígena (Brava gente brasileira), crime e militância política (Quase dois irmãos), Lúcia Murat volta-se para o corpo e a velhice num formato mais ensaístico em Em Três Atos.
 
Contando em cena com a participação de duas bailarinas, Maria Alice Poppe e Angel Vianna, e duas atrizes, Andréa Beltrão e Nathália Timberg, recorrendo a coreografias de João Saldanha e textos da escritora francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), a diretora usa como eixo o contraste entre intérpretes de idades diferentes, que materializam a ideia da passagem do tempo.
 
Os textos, no caso, provêm de dois livros da autora, La vieillesse (A velhice) e Une morte três douce, cujos direitos foram cedidos pela editora Gallimard, e também de entrevistas. Através deles, acompanha-se reflexões de Beauvoir sobre as “metamorfoses” de criança a adulto, as reações do corpo e da memória. Alguns dos momentos mais envolventes são as descrições da autora sobre a morte da mãe, que lhe permite reexaminar a própria história familiar, ao mesmo tempo que acompanha o esforço da mãe para recuperar-se, afinal frustrado. “Duro trabalho é morrer quando se ama tão fortemente a vida”, diz ela.
 
Algumas das observações mais certeiras da escritora, nas vozes alternadas de Andréa e Nathalia, referem-se à própria velhice, assunto sobre o qual “não se fala ou não se fala a verdade”, a seu ver.
 
Dentro da imensa racionalidade que a caracterizava, a autora encontra motivos para ser otimista, no entanto, quando destaca que que os mais velhos precisam “sentir que o mundo está povoado de finalidades”. Também não esquece um olhar aos jovens, em quem enxerga uma “esperança de continuidade e de que vivam tempos melhores”.
 
A trilha sonora que embala as imagens mescla as populares Estão voltando as flores (Paulo Soledade) e Não dá mais pra segurar/Explode coração (Gonzaguinha) e instrumentais de cunho clássico, como o prelúdio da ópera Tristão e Isolda (Richard Wagner), Brasilianas (Edino Krieger) e Ricercata 4 e 7 (György Ligeti).
post