16/02/2025

Um casal conversa e vive experiências, falando de um sonho recorrente, um estrangulador de louras e mistérios da criação.

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Exibido fora da competição no Festival de Brasília 2016, Beduíno enche a tela das divagações literário-pictórico-poéticas do veterano Julio Bressane, com os atores Alessandra Negrini e Fernando Eiras, seus habituês, encenando esquetes lembrando um estrangulador de louras – autorreferência ao próprio filme de Bressane 1971, cujos trechos são insertados -, a obsessão de uma mulher por um sonho que se repete, interações de um casal que remete a tantos outros casais e outros temas que se sucedem na tela, embalando a imaginação e o intelecto naquela mistura tão cara ao diretor de Tabu, Miramar, Filme de Amor, Dias de Nitzsche em Turim e Cleópatra.
 
Fiel ao seu método, Bressane gastou 14 anos esculpindo aquilo que seria este filme, colhendo cuidadosamente as citações literárias, filosóficas, pictóricas e outras que formariam este mosaico de impressões, reflexões e imagens de uma beleza exemplar – valorizadas na fotografia a quatro mãos, por Pablo Baião e Pepe Schettino. A sensualidade destas imagens, como a cena em que Alessandra borrifa de água o próprio rosto ou quando é vista, nua, sob uma luz de quadro de Caravaggio, é apenas um dos aspectos de um filme moldado a despertar várias sensações e não poucas satisfações intelectuais – especialmente pelo arrojo e procura de invenção a que Bressane submete a si mesmo e ao seu público.
 
Eventualmente, o diretor quebra o pacto da ficção e faz questão de revelar os bastidores da filmagem, expondo o artifício da própria narrativa. Mostra, com isso, que conta com um espectador de olhos bem abertos, lúcido, desses capazes de empolgar-se por viagens sem mapas nas quais perder-se fosse instigante. Por tudo isso, Beduíno não é filme “pra entender”, é filme “pra viver”. E faz um bem danado à sensibilidade e à inteligência.
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