04/10/2024
Drama

As duas Irenes

Irene tem 13 anos e é a irmã do meio de uma família de classe média. Um dia, descobre que seu pai mantém um relacionamento secreto com outra mulher e tem uma filha da mesma idade e nome, Irene. E então decide aproximar-se da outra.

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Premiada em dois festivais – Gramado e Cine BH -, a produção paulista-goiana As Duas Irenes, longa de estreia de Fábio Meira, é uma delicada exploração do universo adolescente feminino e das hipocrisias familiares.
 
Contando com duas estreantes muito carismáticas, Priscila Bittencourt e Isabela Torres, o filme desenvolve muito bem a ambiguidade e uma tensão latente, que se cria a partir do momento em que a primeira Irene (Priscila), uma garota de 13 anos, magrinha e tímida, descobre a existência da outra Irene (Isabela), da mesma idade e filha de uma ligação clandestina do pai com a costureira Neusa (Inês Peixoto, do grupo Galpão).
 
As duas famílias, a oficial e a secreta, moram relativamente perto, na mesma região goiana, com o patriarca, Tonico (Marco Ricca), dividindo-se entre as duas casas, alegando viagens de trabalho constantes. Descobrindo sua meia-irmã, a Irene da família legal começa a espionar sua xará, que é mais desenvolvida fisicamente e muito mais atirada e desinibida.
 
O filme carrega bem esta aproximação, cujas intenções não se sabe inteiramente, construindo um relacionamento entre estas irmãs que compartilham o mesmo nome. Cria-se, assim, uma dualidade, um estranhamento que é a matéria-prima da narrativa – além da insegurança que toma a primeira Irene sobre como lidar com este segredo tão pesado, que ela nem tem maturidade para administrar e do qual sente impulsos de fazer uso, especialmente quando sente raiva do pai, da mãe, da irmã mais velha.
 
Uma grande qualidade no tom é evitar o melodrama, sugerindo, esquivando-se das habituais explosões e derramamentos que cercam esse tipo de história. Assim, mantém-se honesto como um retrato do desabrochar da adolescência feminina, retratando vários conflitos desta acidentada entrada na vida adulta.
 
Uma jóia no elenco é outra veterana do Teatro Galpão, Teuda Bara, interpretando a empregada da família oficial e uma espécie de guardiã da história deste clã, já que acompanha seus integrantes há muitos anos, sendo a confidente da Irene tímida.
 
Para quem acha que o cinema brasileiro é incapaz de produzir “filmes argentinos”, ou seja, histórias comuns capazes de conectar com um grande público sem deixar de lado a qualidade da narrativa e das interpretações, As Duas Irenes é uma resposta e tanto a nos redimir.
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