23/03/2025
Drama

O primeiro homem

Nos anos 1960, o piloto Neil Armstrong sofre uma grande perda familiar. Pouco depois, inscreve-se para tentar uma vaga no programa espacial, onde se tornará o primeiro astronauta a pisar na Lua, em 1969.

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Quase 50 anos depois da chegada do primeiro astronauta, norte-americano Neil Armstrong, à Lua, o filme O Primeiro Homem, de Damien Chazelle, focaliza a perspectiva humana de uma jornada que, inegavelmente, mudou a história da humanidade.
 
Baseado em biografia de James R. Hansen, o roteiro de Josh Singer retrata a trajetória de Neil Armstrong (Ryan Gosling), o engenheiro e piloto que se tornaria o primeiro homem a pisar na Lua. De várias maneiras, a narrativa desglamouriza essa jornada de conquista, enfatizando as dificuldades e sacrifícios que ela acarretou. Ao longo de aproximadamente 8 anos, de 1961 a 1969, candidatos a astronautas morreram no meio dos exaustivos testes de preparação, somando perda de vidas ao alto custo financeiro que provocava protestos, numa era de mobilização política contra a guerra do Vietnã e luta pelos direitos civis.
 
Esse turbulento contexto externo, somado à corrida espacial contra uma URSS que havia batido os EUA em vários desafios nesta área, entra pelo tecido narrativo do filme sem, no entanto, conduzi-lo. O foco está mesmo na intimidade deste herói um tanto contido e glacial, representado por um Ryan Gosling nunca menos do que exato.
Não é fácil produzir empatia com um personagem tão introspectivo, mas o ator consegue, também porque o filme mergulha em sua intimidade, fazendo o público compartilhar de seu turbilhão interior a partir de uma perda familiar.
 
Seu duelo com a mulher, Janet (Claire Foy), é, afinal, a representação desta dificuldade de expressão emocional dele. Claire é, também, uma digna representante da feminilidade que se sacrifica e apaga sua individualidade, em nome da paz familiar e do objetivo maior, a missão espacial.
 
Estas famílias de candidatos a astronautas que se frequentam, compartilhando refeições, jogos e brincadeiras com os filhos são o retrato de um tempo, não tão recuado na História, de papeis muito marcados entre os gêneros. Estas mulheres não têm outra função além de esposas, mães e candidatas potenciais a viúvas – o que aconteceu a várias delas. Uma espécie de “risco profissional”.
 
Se o filme tem seu interesse nos dias de hoje, isto se deve à eficiência em recuperar a atmosfera de risco inerente a todas essas missões que antecederam a Apollo-11, levando-nos, por momentos, a esquecer que conhecemos o final de sucesso desta história. Diretor mais jovem a ser premiado com um Oscar na modalidade, por La La Land (2017), Damien Chazelle, hoje com 33 anos, dá mais um passo seguro neste novo filme, completando o próprio processo de amadurecimento, visível especialmente a partir de Whiplash (2014).
 
O filme acerta mais quando fica perto destes homens e mulheres mais ou menos comuns, ainda que imbuídos de tarefas extraordinárias, do que quando incorpora um contexto maior da época. Eventualmente, sucumbe a um certo nacionalismo yankee, como ao incluir trechos de um discurso do presidente John Kennedy. De todo modo, acerta ao retratar a dimensão universal da conquista da Lua, mostrando o quanto a façanha foi vista em todos os cantos do mundo.
 
Em todo caso, são notáveis as sequências reproduzindo o passeio na Lua, de Neil Armstrong, seguido de Buzz Aldrin (Corey Stoll) – especialmente se vistas numa sala IMAX.
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