18/03/2025
Drama

Atlantique

Trabalhando na obra de uma grande torre em Dacar, e há meses sem receber, um grupo de jovens trabalhadores decide tentar a sorte na Espanha. Mas seu barco desaparece, deixando aflitos seus amigos e parentes. Ao mesmo tempo, todas as noites, estranhos fenômenos começam a acontecer. Na Mubi.

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Sobrinha do grande diretor senegalês Djibril Diop Mambéty, Mati Diop - primeira cineasta negra a concorrer à Palma de Ouro - mostrou segurança em seu longa de estreia, Atlantique, para encenar uma história simples mas densa, em torno de jovens trabalhadores de Dacar. O roteiro é assinado por ela e Olivier Demangel.
 
Um grupo desses jovens trabalha na construção de uma grande torre e não recebe há meses. Inconformados com a situação de penúria, decidem abandonar tudo e entrar num barco precário, rumo à Espanha. Um deles é Suleiman (Traore), que está apaixonado por Ada (Mame Bineta Sane), por sua vez, de casamento marcado com Omar (Babacar Syla) - um suposto bom partido, aprovado por sua família muçulmana.
 
A história, que começa com um romance novelesco, toma outro rumo quando o barco dos rapazes desaparece. Um pouco depois, um estranho fenômeno acontece - muitas das garotas e também alguns rapazes são tomados por “djins” (espíritos) à noite, unindo-se na missão de cobrar as dívidas devidas aos desaparecidos. Esse tom fantástico, impregnado de um sentido social-político, acrescenta outras camadas ao filme da jovem estreante, que obteve um Grande Prêmio do Júri em Cannes para coroar seu instigante trabalho. 

Afinal, Atlantique logra criar um retrato do estado da juventude em seu país, em que o realismo fantástico não trai, nem se afasta, da crítica social, tomando o pulso da precariedade da existência de uma geração que parece viver uma guerra permanente contra a exclusão, a falta de oportunidades e a invisibilidade forçada imposta ao continente africano. 

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