Afinal, Atlantique logra criar um retrato do estado da juventude em seu país, em que o realismo fantástico não trai, nem se afasta, da crítica social, tomando o pulso da precariedade da existência de uma geração que parece viver uma guerra permanente contra a exclusão, a falta de oportunidades e a invisibilidade forçada imposta ao continente africano.
Trabalhando na obra de uma grande torre em Dacar, e há meses sem receber, um grupo de jovens trabalhadores decide tentar a sorte na Espanha. Mas seu barco desaparece, deixando aflitos seus amigos e parentes. Ao mesmo tempo, todas as noites, estranhos fenômenos começam a acontecer. Na Mubi.
- Por Neusa Barbosa
- 18/11/2019
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Sobrinha do grande diretor senegalês Djibril Diop Mambéty, Mati Diop - primeira cineasta negra a concorrer à Palma de Ouro - mostrou segurança em seu longa de estreia, Atlantique, para encenar uma história simples mas densa, em torno de jovens trabalhadores de Dacar. O roteiro é assinado por ela e Olivier Demangel.
Um grupo desses jovens trabalha na construção de uma grande torre e não recebe há meses. Inconformados com a situação de penúria, decidem abandonar tudo e entrar num barco precário, rumo à Espanha. Um deles é Suleiman (Traore), que está apaixonado por Ada (Mame Bineta Sane), por sua vez, de casamento marcado com Omar (Babacar Syla) - um suposto bom partido, aprovado por sua família muçulmana.
A história, que começa com um romance novelesco, toma outro rumo quando o barco dos rapazes desaparece. Um pouco depois, um estranho fenômeno acontece - muitas das garotas e também alguns rapazes são tomados por “djins” (espíritos) à noite, unindo-se na missão de cobrar as dívidas devidas aos desaparecidos. Esse tom fantástico, impregnado de um sentido social-político, acrescenta outras camadas ao filme da jovem estreante, que obteve um Grande Prêmio do Júri em Cannes para coroar seu instigante trabalho.