08/09/2024

No começo da pandemia, em abril de 2020, a cineasta Alice Rohrwacher se isolou numa casa no interior da Itália. Ao encontrar uma câmera 16mm e filmes antigos, ela registra o cotidiano da região.

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Era abril de 2020, quando a pandemia estava no começo, e ninguém tinha uma ideia muito clara do que viria pela frente. A diretora e roteirista italiana Alice Rohrwacher, instalada numa casa de campo no interior de seu país, encontrou uma antiga câmera de 16mm e alguns rolos de filmes expirados. Munida desse equipamento precário, saiu em busca de seus vizinhos para documentar seu cotidiano. O resultado é Four Roads, um curta de 8 minutos que tem muito mais a dizer sobre o tempo, o espaço e a vida em comunidade do que muitos longas.
 
O contraste aqui estabelecido é o tom onírico do curta em relação ao pesadelo que o mundo vivia. Rohrwacher capta algo que parece encapsulado, distante dos horrores, medo e ansiedade do presente – embora em um momento uma máscara apareça no rosto de uma pessoa, lembrando a realidade. Isolado e sem contato com outras pessoas que não um pequeno grupo sem qualquer contaminação, o grupo passa o tempo trabalhando, conversando, lembrando do passado, enquanto as crianças brincam.
 
Em seus longas de ficção, como Lázaro Feliz e As Maravilhas, o fantástico sempre esteve em consonância com o real. Em Four Roads não é diferente. As imagens em baixa definição, a luz natural, e os “efeitos” causados pelo filme vencido trazem um quê de sobrenatural, como fantasmas de um mundo que nunca mais será tal como era antes.
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