Espião conhecido como "Agulha", pela lâmina fina que usa para liquidar seus inimigos, o nazista Faber está em fuga, buscando voltar à Alemanha com o segredo do local do desembarque dos Aliados, em 1944. Mas sofre um naufrágio e vai parar numa ilha isolada, habitada pelo casal Lucy e David, seu filho pequeno e o guarda-farol, Tom. Agora o espião precisa chegar ao único rádio, que fica no farol.
- Por Neusa Barbosa
- 18/05/2021
- Tempo de leitura 3 minutos
Dirigido pelo inglês Richard Marquand - que, dois anos depois, comandaria a aventura Star Wars, Episódio VI: O Retorno do Jedi (1983) -, O Buraco da Agulha é um suspense à moda antiga, no melhor sentido.
Baseado no bestseller do britânico Ken Follett, o enredo gira em torno de um espião pró-nazista, Faber, que seria totalmente odiável se não fosse interpretado com os habituais fleuma e carisma pelo canadense Donald Sutherland. Não que se chegue a propriamente simpatizar com o agente secreto, altamente preciso em matar com sua lâmina fina e afiadíssima - motivo de seu apelido, Agulha -, cujo objetivo maior é entregar aos nazistas o ponto exato em que as tropas Aliadas desembarcarão, em junho de 1944. Mas, sendo Sutherland quem é, injeta pelo menos algumas camadas de humanidade ao inequívoco vilão do filme.
Todos sabemos que os desembarques decisivos para a II Guerra foram na Normandia e que os alemães perderam a guerra mas, mesmo assim, cria-se genuíno suspense em torno dessa corrida contra o tempo do espião para passar a informação, então secretíssima, aos seus superiores. A eficiência e o profissionalismo dele ficam bem estabelecidos ao longo do caminho, enquanto ele engana diversas pessoas, inclusive militares ingleses, sobre sua real profissão.
Desde o começo, estabelecem-se dois cenários - um, na Inglaterra, onde o espião procura suas informações e liquida muita gente, outro na remota ilha de Storm, que será o ambiente da segunda parte do filme, com personagens que foram apresentados no início. Ali moram Lucy (Kate Nelligan) e seu marido, David (Christopher Cazenove), um ex-militar que ficou paraplégico num acidente de automóvel no dia de seu casamento. Deprimido, ele quis refugiar-se na ilha, com a mulher e o filho pequeno, criando ovelhas e tendo pouquíssimas companhias - a mais constante delas, o velho Tom (Alex McCrindle), o vigia do farol e companheiro das bebedeiras que agora são a válvula de escape de David.
Canadense como Sutherland, Kate Nelligan compõe com muitas nuances esta que é a principal personagem feminina do filme, uma mulher viva e alegre que vem sendo sufocada por este casamento devido aos problemas psicológicos do marido. Kate consegue injetar em Lucy uma notável complexidade, com traços de ternura e também de sensualidade, quando ocorre seu encontro com Faber.
Faber fugia num barco roubado quando foi colhido pelas tremendas tempestades típicas da ilha Storm - que não tem esse nome à toa -, sendo socorrido por Lucy e David. Nessa segunda parte do filme, o suspense psicológico criado pela tensão, inclusive sexual, representada pela presença do estranho, atinge outro patamar, bem diferente da primeira parte, quando eram as peripécias militares e as fugas eletrizantes que ocupavam a tela.
É nítido que a presença de Lucy baixa um pouco a guarda de Faber, que mantém com ela a conversa mais pessoal que ele terá em todo o filme, permitindo enxergar um pouco além da imagem imperturbável deste homem misterioso - de quem não se sabia, até ali, quase nada. Sobre suas motivações, ele continua opaco. Mas é fato que é um profissional obcecado e tudo fará para ter acesso ao rádio da ilha, que fica no farol.
Sem ser nenhum Hitchcock, Marquand cria real tensão em várias sequências filmadas na ilha - Mull, na costa oeste da Escócia. É o caso de uma luta entre dois personagens na beira de um precipício e também a eletrizante sequência final, em que Lucy mostrará diversos talentos inesperados, no mais puro instinto de sobrevivência. Por tudo isso, O Buraco da Agulha permanece um espetáculo de entretenimento bem honesto e eficiente.