Simpatia pelo diabo, apesar do título, não tem nada a ver com a música dos Rolling Stones ou o romance de Bernardo Carvalho. Este é um filme inspirado nas memórias do jornalista Paul Marchand e a cobertura que ele fez da Guerra da Bósnia, no começo dos anos de 1990, marcando a estreia competente do roteirista e diretor franco-canadense Guillaume de Fontenay.
O filme traz um relato em primeira pessoa pelos olhos de Marchand de uma Sarajevo sitiada e aterrorizada pela guerra. O jornalista, na época com pouco mais de 30 anos, é interpretado com energia e sagacidade por Niels Schneider, um ator com uma semelhança impressionante com o verdadeiro personagem, conforme mostrado nas imagens finais.
Sempre com seu gorro e um charuto no canto da boca, o jornalista cobriu o conflito para a France Info, a Radio Canada e a RTBF, da Bélgica. Seu estilo rebelde parece camuflar a seriedade com que trabalhava, num campo de guerra no qual os sérvios atacavam quase incessantemente. O filme retrata não apenas Marchand, mas um grupo de correspondentes de diversos cantos do mundo, cuja relação transita entre a concorrência (pouca) e a camaradagem (muita). Em situações de risco, a união é o que prevalece. O retrato que Fontenay faz dos jornalistas é um dos mais sinceros do filme.
Ao contrário de seus colegas, Marchand acaba se envolvendo com o conflito e a cidade – o que dificulta a sua saída. Para complicar a situação, ele também se apaixona por uma tradutora nativa, Boba (Ella Rumpf), com quem trabalha. Apesar do clichê que tal situação poderia trazer ao filme, de Fontenay é capaz de o evitar – especialmente por conta da humanidade honesta que injeta nos personagens.
O diretor também realiza uma reconstituição impressionante de época, colocando, em cena, inclusive o infame “sniper alley”, uma região na cidade onde atiradores sérvios se escondiam de ponta a ponta e atiravam em que passasse, mesmo que fossem civis. Como suas ruas conectavam duas áreas de Sarajevo, era quase impossível evitar passar por ali. Com cenas filmadas na própria cidade, percebe-se que, até hoje, as feridas da guerra estão por lá – o que serve tanto como memória quanto como um aviso.