Nos anos 2000, as políticas públicas de inclusão das camadas populares e étnicas até então excluídas nas universidades muda a realidade social e encontra um símbolo em "Que horas ela volta?", de Anna Muylaert. O cinema negro e as pautas identitárias igualmente encontram expressão com o aparecimento de novas cineastas.
- Por Neusa Barbosa
- 12/07/2021
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Refletindo um país que pulsava nos programas públicos federais que trouxeram às universidades camadas da sociedade até ali excluídas, a década de 2000 registrou também a chegada de muitas mulheres ocupando seu espaço na criação de um novo audiovisual.
Um símbolo dessa geração que chegava pela primeira vez à universidade foi justamente uma personagem de um filme dirigido por uma mulher - Jessica (Camila Márdila), de Que Horas Ela Volta ? (2015), de Anna Muylaert. Era o primeiro projeto de longas da curta-metragista, que, não se sentindo ainda madura nele, acabou estreando no formato com Durval Discos (2002).
Era justamente na personagem de Jessica que a diretora/roteirista sentia maior insatisfação no roteiro, que foi retrabalhado exaustivamente de 1995 a 2013, em diversos laboratórios, até encontrar sua eficiente forma final. A repercussão de Que Horas Ela Volta ? foi inegável: levou cerca de 500.000 espectadores aos cinemas do país e girou importantes festivais pelo mundo, como Berlim e Sundance (em que ambas as atrizes, Regina Casé e Camila Márdila, foram premiadas).
O cinema negro explodiu no trabalho de jovens cineastas, como Viviane Ferreira (O dia de Jerusa), Yasmin Thainá (K’bela) e Danddara (Gurufim na Mangueira). O trabalho da pioneira Adélia Sampaio (Amor Maldito, 1984) foi redescoberto.
Outra marca da época foi a chegada ao cinema das pautas identitárias, que culminaram em políticas públicas, com editais afirmativos.Este foi o caso de Julia Katharine, a primeira cineasta trans, chegando às telas com seu premiado curta Tea for Two (2018).