“Nossa história está sendo contada pela gente agora. Agora é a nossa hora de poder refletir e passar esse conhecimento como uma questão de luta, de empoderamento, e não mais com tristeza”, diz um personagem de Cavalo, filme que combina encenação e documentário, dirigido pela dupla Rafhael Barbosa e Werner Salles Bagetti, e que tem na dança sua forma forte de expressão.
Este é um filme que desafia seu público, em sua construção experimental e sua forma nada convencional. Combinando o metafísico e o material, o longa transita entre religiosidade e empoderamento social e, a partir do seu título, já dá uma chave. Cavalo refere-se aqui à capacidade de praticantes das religiões afro-diaspóricas de receber entidades – seus corpos se transformam em mediadores da relação deste mundo com o outro. Por meio dessa manifestação, o longa busca a capacidade de buscar a ancestralidade.
Há também a discussão sobre o próprio filme incorporada nele. Dançarinos, performers, artistas no geral, em cena, conversam sobre suas expectativas e possibilidades de Cavalo. De um lado a dança, de outro a fala, que dão voz às vozes por tantos anos silenciadas.
Este não deixa de ser um filme hermético, e está no seu direito de o ser. Não é necessário fazer concessões para se estabelecer um diálogo. Os diretores são bastante cientes de suas escolhas, e do que estão fazendo na tela. Pode ser, ao final, um filme para poucos, mas é um filme fincado em suas convicções, e isso é louvável.