Em um território Yanomani isolado na Amazônia, o xamã Davi Kopenawa Yanomani tenta manter vivos os espíritos da floresta e as tradições, enquanto a chegada de garimpeiros traz morte e doenças para a comunidade. Alguns jovens ficam encantados com os bens trazidos pelos brancos; e Ehuana, que vê seu marido desaparecer, tenta entender o que aconteceu em seus sonhos.
- Por Alysson Oliveira
- 13/08/2021
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Depois de Ex-Pajé, o diretor e roteirista Luiz Bolognesi volta novamente sua câmera aos povos nativos da Amazônia, no cenário de uma aldeia Yanomami na fronteira entre o Brasil e a Venezuela. Em parceria com o xamã e líder Davi Kopenawa (co-roteirista aqui), uma das figuras mais notórias da causa indígena atualmente, A última floresta documenta uma comunidade em luta contra a extinção.
Combinando imagens documentais com encenações, o documentário ilumina com uma curiosidade de antropólogo e um tom poético o modo de vida e a cosmologia de um povo extremamente conectado com a natureza. A câmera, do espanhol Pedro J. Marquéz, não tem nada de intrusiva, pelo contrário, ela é tão sutil que parece inexistente. Mesmo com encenações, os momentos na vida em comunidade se apresentam de maneira natural, como se não houvesse qualquer vestígio de um elemento estranho em meio aos nativos e às nativas. Em uma entrevista à revista Variety, Bolognesi contou que foi muito fácil a encenação: “Eles são atores naturais, só precisei dizer a eles para não olharem para a câmera.”
O filme documenta a nova crise que se instaurou na região a partir de 2019, com a presidência de Jair Bolsonaro, quando garimpeiros voltaram a invadir o território Yanomami, destruindo florestas, envenenando rios e espalhando a Covid-19 na região. “Por sermos filhos de Omama, os últimos filhos da floresta, precisamos lutar para nossas crianças crescerem saudáveis”, alerta Kopenawa ao seu povo.
A forma como Bolognesi observa os indígenas passa longe da fetichização de uma cultura dita como exótica, documentada apenas para trazer informações ao homem branco. Aqui, ao colocar a câmera a serviço dos Yanomami, tem-se um registro que capta a complexidade desses povos, suas tradições e os efeitos dessa crise. Nunca somos tratados como espectadores que se deleitam no exotismo.
“Para vocês que vivem na cidade, o mais importante é a mercadoria. [...] Para nós, o importante são os animais da floresta, a fertilidade. Importante é dividir o alimento entre nosso povo [...] e a nossa existência como povo”, diz Kopenawa numa palestra na Universidade Harvard, nos EUA. Trata-se de uma constatação que o filme tem em conta o tempo todo. O olhar do líder, num quarto de hotel, pouco depois dessa fala, é, ao mesmo tempo, melancólico e desafiador, de alguém que sempre soube estar numa luta dura (o xamã já recebeu ameaças de morte por denunciar o garimpo ilegal), mas inevitável. Dada sua essência de proteção à natureza, essa é uma luta da qual ele nunca vai abrir mão.