Na primeira cena da série The Chair, criada por Amanda Peet e Annie Julia Wyman, a protagonista, uma professora asiática-americana, Ji-Yoon Kim (Sandra Oh), chega ao seu novo escritório na fictícia universidade Pembroke, onde acaba de ser eleita chefe do Departamento de Inglês. Ela se senta em sua nova cadeira sentindo-se poderosa. E a cadeira quebra. Esse é apenas o indício de que as coisas não vão dar muito certo para ela. É bom notar que a posição dela, em inglês, é chair, assim como o nome do objeto.
Peet e Wyman (que é professora de literatura em Harvard) criam uma comédia dramática sobre o estado das coisas no presente, usando a academia como um microcosmos para narrativas e visões de mundo que estão em disputa no caldeirão pós-moderno da contemporaneidade. Oh, sempre muito competente como coadjuvante no cinema e televisão, tem sua grande chance, e não decepciona como a professora brilhante, cujas burocracias e disputas de ego e intelectualidade atravessam seu caminho – sem falar na vida pessoal. Mãe adotiva de uma menina de origem latina, Ju Ju (Everly Carganilla), ela tem mais jeito com a literatura e seus alunos do que com a filha rebelde.
The Chair cria um elenco de personagens que gravitam nos departamentos universitários e são facilmente reconhecíveis. Dos veteranos, que perderam o contato com a evolução da disciplina, aos superstars cuja aula é mais um show. O primeiro problema que Kim enfrenta na nova posição é quando o reitor Paul Larson (David Morse), impedido de demitir professores efetivados, pede que ela persuada aos mais velhos do departamento que se aposentem, especialmente porque as aulas deles já não atraem tantos alunos quanto antigamente.
Os “dinossauros”, como são chamados, são Joan (Holland Taylor, magnífica no papel), uma professora especialista em Chaucer, enquanto Elliot (Bob Balaban) dá aulas de literatura americana. Os cursos dele são praticamente vazios, enquanto Yaz (Nana Mensah), especialista na mesma área, é um sucesso. Ela é jovem, cheia de energia e em contato com o que há de mais recente na teoria, pedagogia e no mundo. Brilhante em seu trabalho, ela se candidata à efetivação.
A outra figura-chave no departamento é Bill Dobson (Jay Duplass), a estrela local, que enfrenta dificuldades desde a perda da mulher, há pouco tempo. Na sua primeira aula no semestre, inadvertidamente, ele faz uma saudação nazista – em sua defesa, ele faz jocosamente, numa aula sobre o assunto. Alunos filmavam, logo a imagem viraliza e ele se torna o maior problema para a universidade.
Com apenas 6 episódios – num total de menos de 3 horas –, todos dirigidos por Daniel Gray Longino, The Chair dá conta de questões urgentes do presente: desde cancelamentos à representatividade, passando pelas políticas de gênero e raça, discriminação etária, e o papel da arte e cultura no mundo atual. Ao mesmo tempo, quando a academia parece um mundinho fechado em si mesmo, o programa mostra-a calcada na realidade – exatamente ao contrário da visão de mundo de alguns personagens, para quem a arte está numa outra esfera, inatingível e distante da sociedade e da história, existindo por si própria.