Nascido na Martinica, em 1925, Frantz Fanon tornou-se psiquiatra, começando a investigar os meandros do racismo e do colonialismo a partir de seu primeiro livro, "Pele Negra, Máscaras Brancas". Depois de trabalhar na França, deslocou-se à Argélia em 1954, engajando-se totalmente na luta pela independência daquele país.
- Por Neusa Barbosa
- 13/09/2021
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Rebelde com causa, o martiniquenho Frantz Fanon (1925-1961) ganha uma biografia romanceada, em que se reconstitui sua intensa e original trajetória, que lhe permitiu tornar-se um dos maiores pensadores sobre o racismo e o colonialismo em seus curtos 36 anos de vida.
Emprestando seu título do primeiro livro do intelectual, publicado quando ele contava não mais de 27 anos, Frantz Fanon: Pele Negra, Máscara Branca, do diretor inglês Isaac Julien, vale-se tantos de trechos documentais quanto de entrevistas com diversos autores e reencenações, em que o protagonista é interpretado pelo ator Colin Salmon.
A soma de todos esses recursos permite recuperar um bocado da paixão deste personagem singular, que se tornou psiquiatra, usando esta ciência também como eficiente ferramenta para desvendar os mecanismos que sustentam a dependência senhor/escravo, colonizador/colonizado.
Trabalhando na França como psiquiatra, optou por deslocar-se à Argélia, em 1954, quando o país ainda era colônia francesa. Atuando no hospital Blida, ele começou a exercitar seu espírito libertário em suas técnicas de tratamento dos pacientes, estimulando-os a organizar uma vida coletiva dentro da instituição.
Colhido em pleno ardor do movimento pela independência da Argélia, Fanon encontrou naquele país a sua verdadeira pátria, identificando-se com a luta dos argelinos a ponto de abandonar seu posto no hospital, vindo a tornar-se embaixador itinerante desse país perante a África negra, angariando-lhe o apoio de diversos líderes africanos.
Contando com entrevistas de escritores como Stuart Hall, Françoise Vergès e Homi K. Bhabha, o filme desenvolve análises da vida e obra do autor, não se esquivando de apontar-lhe algumas contradições, nenhuma delas empanando o brilho do autor do clássico Os Condenados da Terra, prefaciado em seu lançamento pelo filósofo Jean-Paul Sartre.
Como aponta seu filho, Olivier Fanon, se vivo estivesse, o pai ficaria desolado com a situação tragicamente absurda de uma Argélia assolada pelo militarismo e ataques fundamentalistas. Não só a Argélia, aliás, como o resto do mundo bem aproveitaria se redescobrisse um pouco da chama engajada e libertária do autor.